As águas de enxurradas buscam seu curso natural. Reagem quando são mal represadas e o desvio do curso mal compensado. É a lei da natureza.
arquivo da www.lagoasanta.com.br

Madrugada de medo
Temporal castiga cidades ao norte da região metropolitana, causando deslizamentos, inundações e desabamentos. Meteorologia alerta para a chegada de nova frente fria
O forte temporal que atingiu a Região Metropolitana de Belo Horizonte na madrugada de ontem deixou várias pessoas desabrigadas e causou prejuízo, principalmente em Lagoa Santa. De 1h às 3h30, uma pancada d’água destroçou casas, árvores e fiação elétrica, e as ruas se transformaram em um lamaçal. De acordo com balanço da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos, 22 famílias ficaram desalojadas e outras duas, desabrigadas.

Desde o início do período chuvoso, em agosto, o Centro de Controle de Emergências, ligado à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, contabilizou mais de 60 mil pessoas afetadas. Os danos são maiores em 37 municípios que decretaram situação de emergência. E a previsão não é nada animadora: uma nova frente fria de forte intensidade deve se deslocar do Sul do país para a Região Sudeste e causar tempestades no fim de semana.

O aposentado Expedito Cândido de Jesus, de 75 anos, pressentia que a noite não seria tranqüila e demorou a pegar no sono. Pouco depois, acordou assustado, pois a cama flutuou com a quantidade de água que entrou em sua casa, onde mora sozinho, no Bairro Vila Rica, em Lagoa Santa. “Tive de segurar firme e esperar a chegada de ajuda. Quando os militares vieram consegui sair pela janela”, conta. Por sorte, a casa não desabou, como várias outras na vizinhança. “Se tivesse caído, eu estava morto”, diz.

Perto dali, a dona-de-casa Ilza Dias Rodrigues e os filhos Marcos, de 5, e Maicon, de 7, assistiam desesperados, pela janela, o córrego que passa atrás da casa encher e atingir o muro do barracão de cinco cômodos, em que mora também o marido, Wânder. Em alguns minutos, a água subiu mais de um metro de altura e inundou a moradia. Se não fosse o socorro de familiares, a mãe teria de escolher qual filho salvar, pois os móveis, aparelhos eletrônicos, roupas e documentos foram todos levados pela chuva. “A força do córrego arrastou tudo. Só sobrou a roupa do corpo e, mesmo assim, suja de lama. Chorei demais ao ver as coisas irem embora”, lembra.

No Bairro Lundicéia, próximo à rodoviária, a Escola Estadual Padre Menezes teve de cancelar a aula dos 500 alunos que estudam de manhã. A água invadiu salas de aula e levou muito barro para o pátio. Mas os danos maiores foram na biblioteca. Mais de 1 mil livros devem ser jogados fora, além de CDs e mapas. Junto com os estudantes, 15 faxineiras estavam empenhadas em limpar as dependências para receber o turno da tarde. “Juntamos dois sacos cheios de livros para jogar fora”, conta a bibliotecária Marlene Paula da Silva.

SUSTO Atrás da instituição de ensino, o drama foi maior. O muro que separa a escola da Santa Casa caiu perto de uma casa onde moram três deficientes físicos e uma criança e a única saída dos moradores ficou bloqueada. “Se a água entrasse ninguém sobreviveria. Tentamos chamar o resgate, mas não conseguimos e, pela manhã, ficamos sem telefone”, reclama Luzia de Oliveira Gonçalves, que se locomove em cadeira de rodas.

Segundo o secretário Municipal de Obras, Eduardo Drummond Honorato, a prefeitura organizou abrigos para receber os desabrigados, mas eles preferiram seguir para a casa de parentes. À tarde, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil levou colchões, lonas e cestas básicas para distribuir entre as famílias e postos de saúde ficaram de prontidão para receber casos de doença relacionados à chuva. Cerca de 150 pessoas trabalharam em escala de plantão para limpar a cidade e auxiliar as pessoas afetadas.
Fotos: Sidney Lopes/EM/D.A Press
fonte: Jornal Estado de Minas de 06/11/2008

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