O salto tecnológico vai demandar
investimentos de milhões de reais e criar novas oportunidades de negócios
em toda a cadeia do setor. Até agora, o Governo federal confirmou R$
500 milhões em linhas de crédito internacionais voltadas para
emissoras e indústrias do setor e o BNDES já anunciou que vai
estudar a criação de linhas de crédito para a TV Digital. A
participação da indústria nacional, no entanto, vai depender de
como o modelo nipo-brasileiro será construído. O Governo optou pelo
padrão japonês, mas determinou que inovações tecnológicas
brasileiras sejam incorporadas.
‘É preciso saber agora que inovações serão implementadas.
Dependemos das posições que serão adotadas pelo Governo. Há no país
22 consórcios formados por instituições de ensino superior e
institutos de pesquisa desenvolvendo inovações para a TV Digital. São
mais de mil pesquisadores envolvidos‘, enumera o coordenador-adjunto
do grupo de Pesquisa em TV Digital do Instituto Nacional de
Telecomunicações (Inatel), professor Luciano Leonel Mendes,
destacando que os próximos passos dependem da regulamentação, que
ainda não foi publicada.
Com vários projetos para TV Digital em andamento, o Inatel já testou
com sucesso em seus laboratórios, em Santa Rita do Sapucaí, no Sul
de Minas, transmissões com tecnologia 100% digital. Conhecida como
Vale da Eletrônica, Santa Rita é pólo de desenvolvimento de
tecnologia nacional.
‘Nosso esforço é para que a importação seja a menor possível,
para que a indústria nacional consiga competir com o pessoal de fora,
de igual para igual. Tanto a indústria de eletroeletrônicos como a
de equipamentos de transmissão podem se desenvolver bastante com a
implantação da TV Digital‘, afirma o professor.
Entre as oportunidades de desenvolvimento e geração de empregos na
indústria está a possibilidade de implantação de uma fábrica de
semicondutores no país, que deve demandar investimentos da ordem de
US$ 350 milhões e gerar cerca de 400 empregos diretos. Minas está na
disputa para sediar o empreendimento em Lagoa Santa, próximo ao
aeroporto de Confins. ‘Estamos discutindo a questão com possíveis
parceiros. A expectativa é que tenhamos uma definição até o final
do ano‘, adianta o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico,
Wilson Brumer, que prefere não citar nomes de empresas. Segundo o
secretário, as negociações também incluem o Governo federal para
que seja feita uma adequação da política fiscal e tributária
brasileira ao que os outros países oferecem.
Já o investimento feito pelas emissoras de TV será compensado pelas
possibilidades de novos negócios. ‘A nova tecnologia permite, por
exemplo, a compra pela TV, que pode ser explorada pelas emissoras. O
que vai determinar quais serviços serão implementados é o próprio
mercado‘, avalia.
A transmissão continuará sendo feita através de ondas de rádio,
mas abrem-se as possibilidades para veiculação de várias programações
em um único canal e transmissões para celulares.
Para o professor, a digitalização também permitirá que a TV faça
frente à concorrência da Internet, graças aos recursos que
favorecem a interatividade. ‘As emissoras poderão agregar valor a
sua informação. Caberá ao telespectador acessar ou não dados
disponibilizados na tela. Em uma partida de Brasil e Gana, por
exemplo, a emissora pode transmitir informações sobre o adversário
e o telespectador escolhe entre ver ou não‘, detalha.
Conversor deve chegar ao mercado a R$ 300
Com o anúncio da escolha do padrão japonês, e o preço das TVs de
plasma em queda, o consumidor se pergunta se é melhor comprar agora
ou esperar para adquirir uma TV Digital. Se para o telespectador o
tema é confuso, mesmo entre os especialistas a questão gera controvérsias.
Segundo o coordenador-adjunto do grupo de Pesquisa em TV Digital do
Inatel, professor Luciano Leonel Mendes, não há porque esperar.
‘Com um Set Top Box avançado, o consumidor terá acesso a todas as
funcionalidades de uma TV Digital‘, justifica. O Set Top Box é um
receptor que converte o sinal digital para o televisor analógico
convencional. O modelo básico deve custar aproximadamente R$ 300 para
o consumidor final, de acordo com as estimativas do professor. O
modelo avançado hoje custa cerca de US$ 400 no exterior.
Mas é preciso cuidado na hora da compra. ‘Tem gente vendendo TV de
plasma como sendo de alta resolução. Nem todas são. O comprador tem
de prestar muita atenção aos números de linhas e pontos‘, alerta.
O professor explica que a imagem da TV é formada por linhas que contém
pontos, os pixels. A TV convencional tem 480 linhas e cada linha tem
640 pixels. ‘Já a TV Digital pode ter até 1.080 linhas e 1.920
pontos por linha. Isto é alta definição. Há TVs de plasma com 720
linhas, por exemplo‘, diferencia.
Segundo Leonel, a expectativa é que o preço de aproximadamente R$ 7
mil cobrado hoje por uma TV de plasma, por exemplo, seja acrescido de
valores entre R$ 500 e R$ 1.000,00 na venda de um modelo digital. O
novo modelo já virá com o receptor para sinal digital embutido no
aparelho.
O professor Leonel esclarece ainda que existem no mercado algumas TVs
sendo vendidas como ‘HDTV Ready‘. Isto significa que essas TVs
possuem entradas para sinais de alta-definição, mas elas não
possuem o receptor digital. Ou seja, nesses casos também será necessário
adquirir um Set Top Box.
Para o gerente técnico da Rede Record Minas, Warxio Rocha, vale a
pena esperar. ‘Se é para fazer um investimento alto, é melhor que
já seja na nova tecnologia‘, pondera. Já o supervisor de Operações
de Engenharia da TV Globo Minas, Marcelo dos Santos, avalia que o
ideal é aguardar pelo menos uns seis meses após o lançamento.
‘Quem compra primeiro paga preço de lançamento. Depois de alguns
meses o preço vai estar mais natural‘, opina.
A orientação do Ministério das Comunicações para o consumidor em
busca da qualidade do sistema digital é aguardar. ‘Caso o cidadão
busque alta definição de imagem, a recomendação é esperar. Os
aparelhos digitais à disposição no mercado não têm número de
linhas suficientes para a TV de alta definição‘, informou o
ministro Hélio Costa.
Gerente da Record Minas aposta em mais atratividade
O gerente técnico da Rede Record Minas, Warxio Rocha, lembra que os
próximos passos da TV Digital e a definição dos novos recursos
oferecidos pela TV dependem da regulamentação, que ainda não foi
publicada. ‘Mas não há dúvidas de que vai mudar a forma de se
assistir TV. Ao exibir um filme, por exemplo, a emissora poderá
mostrar também uma sinopse. Outra possibilidade é a transmissão de
até quatro programações. Também podemos fazer uma enquete, por
exemplo. A TV vai ficar muito mais atrativa‘, opina.
Warxio Rocha também destaca que, em um primeiro momento, a
interatividade será limitada. ‘De qualquer forma, mesmo com um Set
Top Box de baixo custo haverá melhorias de imagem e som. O
telespectador não conviverá mais com fantasmas e chuviscos‘,
detalha. Segundo ele, a emissora ainda não tem uma data para o início
da transmissão digital em Minas.
De acordo com o supervisor de Operações de Engenharia da TV Globo
Minas, Marcelo dos Santos, o início das transmissões digitais em
Minas é esperado para 2008. ‘A emissora deve começar por São
Paulo, Rio e Brasília já em 2007. Esta é a previsão se não houver
atrasos na regulamentação‘, afirma o supervisor, que já tem
fechado o orçamento para compra de novos equipamentos, mas prefere não
falar em números por ‘questões estratégicas‘.
O gerente técnico da TV Alterosa, Luis Eduardo Leão, lembra que a TV
está engessada desde 1972, quando passou a ser colorida. ‘É a
oportunidade de avançar‘, avalia. Leão destaca, no entanto, que a
badalada interatividade da TV Digital, pelo menos em um primeiro
momento, terá suas limitações. ‘É preciso entender que a TV é
unidirecional. A transmissão ocorre em um único sentido e isso
permanece na TV Digital. Para que o telespectador envie dados é
preciso que exista uma canal de retorno‘, explica o gerente técnico
da TV Alterosa, Luis Eduardo Leão.
Um outro nível de interatividade, em que o telespectador também
envia dados, só com a utilização de um canal de retorno - que
poderia ser uma linha telefônica ou um cabeamento de banda larga.
‘Isso não é oferecido pela TV e certamente terá um custo‘,
destaca o gerente da TV Alterosa.
Financiamento gera preocupação
Nem só de boas perspectivas vive a indústria fornecedora de
equipamentos para as emissoras de TV. Também há o temor de que,
estimulados por financiamentos internacionais, os compradores optem
pelas importações em detrimento da produção nacional. Para a
engenheira de desenvolvimento da mineira Linear Transmissores de TV,
Vanessa Lima, a mudança de padrão traz oportunidades, mas também
oferece riscos.
‘Nossa preocupação é o provável financiamento que o banco japonês
vai fornecer para que as emissoras brasileiras adquiram produtos
japoneses. Ainda não sabemos o que será oferecido pelo BNDES. Se as
condições dos japoneses forem mais favoráveis, os compradores podem
preferir os produtos de lá‘, alerta, referindo-se aos R$ 500 milhões
que o banco de fomento japonês anunciou que irá disponibilizar.
O BNDES informou, através de sua Assessoria Comunicação, que está
formando um grupo de estudos para viabilizar os financiamentos para a
implantação na TV Digital no Brasil. Segundo a engenheira, a transição
do modelo analógico para o digital já provocou fechamento de indústrias
do setor em outros países. ‘As emissoras paralisam os investimentos
em tecnologia analógica e entram em compasso de espera. É neste
momento que entramos agora. O cenário é incerto‘, avalia.
Apesar de incerto, o cenário também tem otimistas. O diretor técnico
da STB Superior Tecnologia em Radiodifusão, Flávio Brito, fabricante
de transmissores de Santa Rita do Sapucaí, conta que espera dobrar a
produção e o número de funcionários no ano que vem. ‘Estamos
apenas aguardando a regulamentação, mas estamos prontos para o
mercado‘, afirma o diretor, que comercializa transmissores com
valores entre R$ 5 mil e R$ 400 mil, dependendo da potência.
A empresa, que tem como clientes as emissoras de TV, foi criada há três
anos com foco no mercado de TV Digital e demandou investimentos de US$
3 milhões para sua implantação. São 25 profissionais envolvidos
diretamente com desenvolvimento de tecnologia e 65 na linha de produção.
Além dos transmissores, a STB também vai comercializar o Set Top
Box, um receptor que faz a conversão do sinal digital para a TV analógica.
‘Não sabíamos qual padrão seria adotado e o desenvolvemos para o
padrão europeu. Agora estamos em fase de desenvolvimento de um modelo
para o padrão japonês.
TELINHA DE BITS
O be-a-bá da TV Digital
- O que é?
É um sistema de comunicação em que imagem e som são transmitidos
por uma emissora para os telespectadores utilizando técnicas
digitais. Além do aumento da qualidade de som e imagem, é possível
agregar valor ao sistema, através da veiculação de dados junto à
transmissão.
- Quais as vantagens da TV Digital?
* Qualidade de imagem e som: fim dos fantasmas e chuviscos e som com
qualidade de CD.
* Aumento do número de canais: será possível transmitir até quatro
programações no canal onde hoje é transmitida apenas uma.
* Interatividade: a emissora poderá exibir informações sobre a
programação ou produtos e pessoas em exibição na tela.
* Mobilidade: possibilidade de recepção em dispositivos móveis,
como celulares, por exemplo.
- Quando vai se tornar realidade?
A implementação do sistema depende em um primeiro momento da
regulamentação, e em uma segunda fase das emissoras e das possíveis
formas de financiamento.
- O que o telespectador precisa fazer?
O telespectador poderá, no futuro, adquirir uma televisão de
alta-definição digital preparada para receber os sinais do novo
sistema. Outra opção é comprar uma unidade conversora, o Set Top
Box, que converte os sinais digitais para a TV analógica
convencional. No primeiro caso, o telespectador terá todos os benefícios
do sistema, como alta resolução de imagem e os recursos de
interatividade. Já no segundo caso, o telespectador terá uma
qualidade de imagem padrão, equivalente à do aparelho DVD, e uma
interatividade limitada. Nesta hipótese a imagem não será em
alta-definição.
- Já há hoje no mercado TVs prontas para receber o sinal digital?
Existem hoje algumas TVs sendo vendidas como ‘HDTV Ready‘. Isto
significa que essas TVs possuem entradas para sinais de alta-definição,
mas elas não possuem o receptor digital. Neste caso também será
necessário adquirir um Set Top Box. A diferença é que imagem será
em alta-definição.
- Quanto o consumidor vai ter de desembolsar?
O custo de um Set Top Box está previsto para algo em torno de R$
300,00. A expectativa é que o preço de aproximadamente R$ 7 mil
cobrado hoje por uma TV de plasma, por exemplo, seja acrescido de
valores entre R$ 500 e R$ 1.000 na venda de um modelo digital, que já
virá com o receptor para sinal digital embutido no aparelho. Esses
preços devem sofrer uma grande redução à medida que a demanda do
mercado por estes equipamentos aumentar.
- Quem não comprar o conversor ou um novo aparelho vai ficar sem TV
depois que começarem as transmissões digitais?
O Governo definiu um prazo de dez anos para a transição do sistema
de transmissão analógica para o digital, contados a partir da
publicação do decreto de adoção do padrão japonês, em 29 de
junho de 2006. Durante esse período de transição, as emissoras farão
a transmissão analógica e digital simultaneamente.
Fonte: Inatel/professor Luciano Leonel Mendes/Governo Federal
A recomendação é esperar
ENTREVISTA/HÉLIO COSTA, MINISTRO DAS COMUNICAÇÕES
Quando deve sair a definição sobre quais inovações brasileiras
devem ser incorporadas ao padrão japonês. O modelo nipo-brasileiro
deve ser concluído quando?
Esse procedimento está em andamento. O Decreto nº 5.820 estabelece
prazo de um mês para a formação de grupo de trabalho, para a indicação
de técnicos representantes dos governos brasileiro e japonês que
cuidarão de definir a incorporação da tecnologia.
E a regulamentação? Quando será publicada?
O trabalho de regulamentação do Decreto nº 5.820 tem prazo de 60
dias para apresentação de relatório.
A principal dúvida do consumidor é sobre esperar ou não para
comprar uma TV Digital. Essa espera seria de quanto tempo?
Caso o cidadão busque alta definição de imagem, a recomendação é
esperar. Os aparelhos digitais à disposição no mercado não têm número
de linhas suficientes para a tevê de alta definição.
Como estão as negociações para a instalação de uma fábrica de
semi-condutores no país?
Os entendimentos seguem bem. Empresas brasileiras e japonesas estão
em entendimento e houve reunião nesta semana para a formação do fórum
que definirá normas técnicas.
Haverá linhas de financiamento para a mudança de padrão tecnológico?
Há linhas de crédito internacionais, de R$ 500 milhões, para
radiodifusores e industriais do ramo e o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverá caminhar na mesma
linha.
Veja
o que ja foi publicado sobre a matéria
fonte: jornal Hoje
em Dia - 17/07/2006
e arquivo da www.lagoasanta.com.br