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Construtor volta à obra que marcou sua carreira


- O ENGENHEIRO Gil César Moreira de Abreu, com a mulher, Tatiana, e os filhos gêmeos Cristal e Gil César, no Mineirão.
- VISTA AÉREA do Estádio Magalhães Pinto, no dia 5 de setembro de 1965, o segundo maior do mundo na época.

DESAFIO Gil César sobe novamente na marquise do estádio após 35 anos
Na véspera do aniversário de 40 anos de inauguração da obra que marcou a sua vida, o engenheiro Gil César Moreira de Abreu percorreu, emocionado, os caminhos do Mineirão. Acompanhado pela mulher, Tatiana, e pelos dois filhos do casal, Cristal e Gil César, ambos de 2 anos e 8 meses, ele se recordou dos momentos inesquecíveis que passou na Pampulha.
Na chegada ao estádio, um grupo de garotos da cidade de São João del-Rei, que realizava numa excursão escolar o sonho de conhecer o Mineirão, teve a visita enriquecida pelo encontro com o engenheiro da obra. Com paciência de mestre, Gil César matou curiosidades, mostrou fotos e deixou impressionado quem tinha pela frente algo bem maior do que a imaginação.
A paixão de Gil César pela engenharia se confunde ao carinho que ele carrega pelo estádio. Nas explicações sobre a obra, principalmente quando o assunto é a estrutura, ele consegue prender a atenção de quem está envolta.
E revela uma curiosidade em relação à estrutura: 'A forma do público torcer mudou. Antes, era muito mais aplausos e gritos. Hoje, se pula muito em estádio. Isso não oferece risco ao Mineirão, mas para dar um conforto maior, foram instalados amortecedores em todo o estádio, sob o anel superior'.
Gil César conta ainda que o Mineirão tem 28 módulos que formam o estádio e se recorda das experiências em que contava com a ajuda dos seus operários: 'Eles enchiam um setor e eu ficava na pista, pedindo a eles para fazerem os mais diversos movimentos, nos primeiros testes da estrutura'.
No gramado, as atenções de Gil César tiveram de ser divididas. Os dois filhos, com uma bola que levaram com eles para a visita ao estádio que o pai construiu, percorriam o campo em busca de um gol que parecia cada vez mais longe e nunca chegava.

Marquise

A convite do HOJE EM DIA, Gil César Moreira de Abreu subiu novamente na marquise do Mineirão, onde não pisava há quase 35 anos. A emoção foi inevitável. A primeira impressão era o crescimento da cidade, que se espalhou por todos os lados em torno do estádio, que contribuiu e muito para o crescimento da região.
As histórias começaram a surgir e Gil César lembra da reta final da obra: 'Uma semana antes da inauguração foi encerrada a concretagem da marquise do último setor construído. Os engenheiros todos subiram aqui e cada um jogou um pouco de concreto. Depois, quebramos uma garrafa de champanhe. Já era madrugada e ainda me recordo como hoje da nossa comemoração'.
Outro detalhe revelado por Gil César no alto do Mineirão é que a conquista do Campeonato Brasileiro de Seleções, por Minas Gerais, em 1963, vencendo o Rio de Janeiro na final, foi fundamental para a conclusão do estádio: 'No dia seguinte, o Governador Magalhães Pinto me chamou no Palácio da Liberdade e disse para fazer o que fosse preciso para se terminar a obra ainda no governo dele'.
Com a ordem do governador, o número de operários que trabalhavam no Mineirão, que girava em torno de 200, pulou para quase 3 mil em poucos meses, com os trabalhos em dois turnos, possibilitando a inauguração em setembro de 1965. Do Maracanã, foi doado até sobras de concreto para terminar a construção do estádio.
Contrário à privatização do Mineirão ou à transferência da sua administração para os clubes, principalmente Atlético e Cruzeiro, Gil César acha difícil fazer uma previsão exata de quanto custaria hoje o estádio, mas calcula que entre R$ 500 milhões e 600 milhões.
Depois de quase duas horas vivendo momentos de emoção e recordando o período da sua vida que foi vivido dentro do Mineirão, Gil César Moreira de Abreu, que começou a trabalhar na obra com 27 anos, apenas três depois de se formar em engenharia, desabafou: 'O desafio valeu a pena'.

Alexandre Simões
REPÓRTER

fonte: Jornal Hoje em Dia - OnLine - 05/09/2005


As recordações do "pai do estádio"

Alexandre Simões
REPÓRTER

O projeto original do Mineirão era de um estádio para 35 mil pessoas, no mesmo local onde hoje está erguido, e quando foi sancionada a Lei 1947, em 13 de agosto de 1959, que garantiu recursos para a construção do 'Gigante da Pampulha", ele já estava projetado, pois a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tinha contratado os arquitetos Eduardo Mendes Guimarães e Gaspar Garreto, já que pretendia construir um estádio universitário no terreno, que fazia parte do seu campus.
Esta é apenas uma das revelações sobre a história do Mineirão feitas pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Jorge Carone Filho, que pode ser considerado o 'pai do estádio", pois foi ele, no primeiro mandato como deputado estadual, o autor da lei que viabilizou a construção do Mineirão, com 4% da arrecadação da Loteria Mineira sendo destinados à obra.
'Com a aprovação do meu projeto, foi criado um conselho de administração da obra, do qual eu fazia parte, representando a Assembléia Legislativa. O Gil César Moreira de Abreu foi nomeado pelo governador Bias Fortes e passamos a procurar o local para a construção do Mineirão. Aí surgiu a idéia de erguê-lo no terreno da UFMG, até porque já sabíamos da existência do projeto de Eduardo Guimarães e Gaspar Garreto. Nas primeiras reuniões, foi aumentada a capacidade de público, de 35 para 100 mil pessoas, e acertada a colocação de uma cobertura, que protegesse o público da chuva", revela Carone.
Com a escolha do local, faltava a autorização do Governo Federal, que era proprietário do terreno, via UFMG. No Rio de Janeiro, a proposta do convênio foi levada primeiro ao ministro da Educação, Clóvis Salgado, que o encaminhou ao presidente Juscelino Kubitschek, que gostou da idéia da construção do estádio na Pampulha, bairro que ele tinha criado quando foi prefeito de Belo Horizonte.
Jorge Carone lembra que apesar do convênio firmado entre o governo mineiro e a UFMG, faltavam as assinaturas do ministro Clóvis Salgado e do presidente JK, que foram conseguidas de forma inusitada. 'O JK veio a Belo Horizonte com o Clóvis Salgado para a inauguração da Faculdade de Medicina. Foi colocada uma mesa enorme, que os separava dos convidados. O Gil César e eu não tivemos dúvida. De joelhos, passamos por debaixo da mesa e saímos em frente ao presidente. O JK deu uma risada com a cena e assinou o convênio, fazendo um pedido: queria que o Mineirão tivesse a frente - o hall - para a lagoa da Pampulha", recorda Carone.

Desenvolvimento

Além de impulsionar o futebol mineiro, o Mineirão colaborou ainda para o crescimento de Belo Horizonte, segundo Carone: 'O Marum Patrus e o José Flávio Dias Vieira, que também integravam o conselho de administração, foram comigo duas ou três vezes ao Ministério dos Transportes. Com a insistência, conseguimos o asfaltamento da Avenida Antônio Abraão Caram e das demais vias ao redor da área escolhida para a construção do estádio".
Jorge Carone Filho destaca as atuações do ex-presidente Tancredo Neves e do ex-deputado Aécio Cunha, avô e pai, respectivamente, do governador Aécio Neves, no processo de construção do Mineirão, e dá uma sugestão ao governador: 'A gente percebe que ele gosta do Mineirão, pois vem modernizando o estádio, colocando cadeiras, melhorando a estrutura, por isso sugiro que ele encaminhe à Assembléia Legislativa uma mensagem restabelecendo os 4% da lei 1947/59 à sua destinação de origem. Com estes recursos, a Ademg poderá fazer todas as reformas necessárias".

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