TEMPO DE NATAL.
Texto de Tenório Barroso de Pinho

Já vai longe o tempo em que"Papai Noel" me deu de presente um cinturaõ com dois revólveres de metralha, um de cada lado.
Já vai também longe o tempo em que piscava uma árvore de natal em cada jardim e que morava em cada coração a luz de um menino em sua manjedoura.
Tempo em que ainda existia a "missa-do-galo" e além do limite de nosso sono tentávamos surpreender "Papai-Noel" colocando o nosso presente ao pé da cama. Hoje, mudou-se o Natal ou mudei eu?
Um dia, este vasto mundo apontou com o seu dedo cruel para o meu lado e a sorrir me disse: Olha o bobo...ainda acredita em "Papai Noel"! E de lá prá cá, foram tirando toda a inocência daquele menino.
Em vez do sino, veio o apito do celular; do ingênuo revolver de metralha, a morte com tiro de fuzil e escopeta; em vez da "Missa-do-galo", a rede "globo" tentando mudar nosso conceito de familia; e em vez de se repartir o pão, o saco sem fundo dos nossos politicos pregando a corrupção.
Porém eu ainda teimo em dessenterrar o velho presépio de algumas caixas de papelão.
Vou montando devagar, ano a ano, aquelas ,figuras de barro onde os pastores e suas ovelhas vão faltando um braço ou as vezes a própria cabeça.
E assim me olha José e Maria, com a cara amarelada de mofo e solidão.
Sob o papel salpicado de pó de pedra vou imitando uma gruta cavada na rocha e dentro da manjedoura, um menino Jesus um pouco grande para o seu berço de feno.
E por cima de tudo, dependurado num barbante, a estrela indicando o caminho para todos aqueles que quiserem a direção.
Já vai longe aquele tempo.
Hoje nenhuma estrela anuncia mais o nascimento. Melhor é falar de festa.
Nos clubes, nas boates, pois todos sairão a rua para se divertir, fazer compras e esquecer.
Porem é Natal!
E para vocês, meus amigos internautas, boas festas e depois de tudo, um feliz ano novo. Sim, sejamos felizes, pois não há nenhum chiclete melhor do que este para a humanidade mascar.E assim como eu, continuem pondo os seus sapatos aos ,pés da cama, quem sabe um dia, "Papai-Noel" resolve voltar.

Há pessoas que me perguntam por que escrevo, pois se o preço da vida se paga é vivendo, impávido, e recordando fiel o que dela foi dor ou foi contentamento.
Acontece que naquela manha de abril, em que minha mãe deu-me a luz, Deus tinha no céu um grande estoque de almas . Almas que teimavam em desencarnar, embora ele as encarnava obstinadamente. Suicidavam-se sem que tivesse cumprido seu tempo na terra.
E assim Ele ia ficando cansado daquela teimosia.
Naquele dia, Deus teve uma idéia. Pegou por acaso uma boa dúzia de almas. A de um filósofo, a de um imbecil, a de uma criança, a de um rebelde, a de um caipira, a de um velho, por fim. Pegou bambem a alma de um místico, de um sábio, de um amante a de um cético. Ensacou-as , todas juntas em um corpo só.
A luta de umas com as outras impede a desintegração. Assim que uma prevalece sobre as demais, espia para fora pela janela dos olhos.
Ora é a criança que emerge, ora o místico, ora o idiota. E o corpo que elas moram e batalham nessa experiência curiosa de Deus, é o amor.
Eu escrevo, porque a alma que mais se manifesta , é a do poeta.