Maria Tereza Correia
Rogério Tavares aposta na criação de um parque-modelo
Parque do sumidouro, o retrato da região é de descaso e abandono.
Depois de 26 anos da criação do Parque do Sumidouro, em decreto estadual para compensar problemas ambientais com a construção do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o retrato da região é de descaso e abandono. A área delimitada para a unidade de conservação (1,3 mil hectares) está ocupada por 70 loteamentos irregulares e, no seu entorno, há 50 empresas de beneficiamento de pedras ornamentais, funcionando sem licença ambiental. As rochas que formam o conjunto paisagístico da Lapa do Sumidouro, tombada pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), no qual estão pinturas rupestres com mais de 10 mil anos, são alvo constante de pichações.

Esse é o resultado do levantamento parcial feito pela Operação Parque do Sumidouro, deflagrada pelo Ministério Público Estadual (MPE) e que terminou ontem, com apoio da Polícia Militar de Meio Ambiente, Ibama, Instituto Estadual de Florestas (IEF), Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Iepha e Projeto Manuelzão da UFMG. O relatório final deve ser divulgado em 30 dias, quando o MPE receberá os autos de infração e laudos emitidos pela polícia e órgãos ambientais do estado.

A partir daí, o Ministério Público vai negociar termos de ajustamento de conduta (TACs) com as partes envolvidas para recuperação ambiental das áreas degradadas. Se não houver assinatura dos TACs, o órgão poderá ajuizar ação civil pública. “Nossa intenção é ver a área recuperada. Não há nenhum plano de gerenciamento dos resíduos gerados nas empresas de pedras e, de três meses para cá, desde nossa última visita à região, a situação se agravou demais. Nossa preocupação é que em menos de cinco anos não fique nada para ser preservado na área, uma das mais importantes do Brasil e conhecida internacionalmente, pela importância arqueológica e paleontológica, mas hoje totalmente abandonada”, alerta o promotor de Justiça e coordenador das Promotorias Ambientais das Sub-Bacias do Rio das Velhas e Paraopeba, Marcos Paulo de Souza Miranda.

Segundo o presidente da Associação Comunitária Antônio Francisco Lisboa, Rogério Tavares de Oliveira, do povoado de Quinta do Sumidouro, que pertence ao município de Pedro Leopoldo, vizinho ao parque, as discussões sobre a implantação da reserva ambiental estão intensas, desde o ano passado. Ele faz parte da câmara técnica do Parque do Sumidouro, no conselho da Área de Proteção Ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa, unidade federal administrada pelo Ibama em que está inserido o parque.

“Há vários projetos para o entorno do aeroporto, que já estão trazendo mais movimento e pessoas para cá. Não somos contra o desenvolvimento da região, pelo contrário, só queremos que sejam consideradas as particularidades, a importância e o relevo frágil da área. Temos um potencial turístico cultural e ambiental muito rico e acreditamos que o governo vá dar a atenção merecida ao desenvolvimento sustentável dos municípios no entorno da APA Carste”, diz Rogério Tavares de Oliveira.

Para implantar o parque, o IEF precisa fazer a regularização fundiária e montar a infra-estrutura do complexo. Segundo o gerente do Sumidouro, no cargo há cinco meses, Roberto Alvarenga, não há estimativa de quanto isso custaria. “Os valores mudam todo dia. É um processo caro e difícil”. A região da APA Carste de Lagoa Santa foi pesquisada pelo dinamarquês Peter Lund em 1835, sendo encontrados mais de 12 mil fósseis. Em 1975, uma missão francesa descobriu a evidência mais antiga do homem na América, teoria encampada pelo professor e bioantropólogo da Universidade de São Paulo, Walter Neves, que, depois de comparar crânios de todo mundo com os de Minas, mostrou que eles eram mais parecidos com africanos e australianos, e não com os asiáticos, como afirmava a teoria mundial.

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