Perfil do Lund

Um botânico em Lagoa Santa

Lund lança base da ecologia no Brasil com estudo paleontológico de grutas mineiras

Casa de Lund em Lagoa Santa. Nos meses de seca, ele realizava expedições; na época das chuvas, recolhia-se para estudo dos fósseis no galpão nos fundos da casa. O frondoso pequizeiro marca o local onde Lund está enterrado

Peter Lund nasceu em Copenhague a 14 de junho de 1801, filho de ricos comerciantes de lã. Bacharel em Letras, aos 17 anos ingressa no curso de Medicina. Em 1824 começa o trabalho como pesquisador de campo com dois trabalhos condecorados. No ano seguinte, publica um livro de fisiologia que foi adotado nas universidades de Copenhague, Viena e Nápoles. No mesmo ano, seu talento para a zoologia é revelado na premiada monografia O sistema de circulação nos crustáceos.

Acima, gruta de Maquiné. Lund construía um casebre de pau-a-pique na frente das grutas visitadas, ao qual se atava com uma corda pela cintura. No início do século 19, Lagoa Santa tinha cerca de 80 casas e 500 habitantes

Lund transfere-se para o Brasil em dezembro de 1825 e logo sente a "atração mágica da natureza tropical". Reside inicialmente na aldeia de pescadores de Itaipu (RJ). Dedica-se à zoologia e sobretudo à botânica. Estuda o comportamento das formigas e os ovos de certos moluscos em um dos mais completos ensaios sobre o assunto. Monta diversas coleções zoológicas, remetidas ao Museu de História Natural da Copenhague.

O naturalista embarca para Hamburgo em 1829. Exibe suas pesquisas na França e Itália, onde mantém contato com autoridades científicas da época. Em 1933, retorna em definitivo ao Brasil. Desta vez, dedica-se à botânica das plantas domésticas em companhia de L. Ridel. Juntos, excursionam pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Minas Gerais para estudar a fauna e flora locais.

Em outubro 1834, um ano após a partida, Lund e Ridel chegam a Curvelo (MG), onde encontram casualmente Peter Claussen, que explorava salitre em cavernas calcárias na região de Lagoa Santa. Havia em seu interior grandes ossos que os habitantes locais atribuíam a homens pré-históricos gigantescos. A extensa área para pesquisa levaria Lund a se dedicar à paleontologia. A excursão prossegue até Ouro Preto, onde Ridel adoece. Lund compila suas notas de viagem nas Observações a respeito da vegetação dos campos do interior do Brasil.

Em 1835, Lund retorna a Lagoa Santa. As primeiras grutas visitadas foram a Lapa Vermelha e a Lapa Nova de Maquiné. Sobre a última, escreve: "quanto a mim, confesso que nunca meus olhos viram nada de mais belo e magnífico nos domínios da natureza e da arte". Lund preservou certa paternidade sobre a descoberta, pedindo inclusive a conservação da gruta em testamento. As escavações nas grutas foram registradas por Andreas Brandt, desenhista e pintor norueguês que se torna auxiliar de Lund.

Lund é considerado o pai da espeleologia brasileira pelo pioneirismo na visita a várias grutas e pela consciência ecológica vanguardista que demonstrou. "Infelizmente, retiraram o conteúdo destas grutas para extração do salitre, sem o mínimo respeito pelas relíquias acumuladas nestes lugares realmente sagrados." Lund cria também a base para uma ecologia brasileira ao convidar o botânico Eugene Warming para realizar um levantamento do cerrado da região de Lagoa Santa, que originou o primeiro trabalho de fitoecologia do mundo, publicado em 1840.

www.lagoasanta.com.br - revista virtual da cidade