Tratamento eficaz contra a acne



Luciana Neves
Repórter

Elas surgem numa época da vida em que há progressivas transformações físicas e psicológicas e os complexos estão mais aflorados. A acne, definida como a doença dermatológica causada pela estimulação excessiva da glândula sebácea, principalmente pelo andrógeno (hormônio masculino), mais freqüente entre adolescentes e adultos jovens, não escolhe sexo, nem raça, mas predomina no rosto, pescoço, colo, costas e ombros. Dependendo da gravidade pode atingir a auto-estima da pessoa ao ponto de restringir sua vida social. Oitenta e cinco por cento das pessoas que têm acne apresentam manifestações simples que permanecem por tempo limitado e muitas vezes desaparecem espontaneamente, mas 15% sofrem com o problema e precisam de acompanhamento dermatológico.
O tratamento depende da gravidade da acne e as medidas em geral visam combater o excesso de sebo, sem contudo impedir sua produção. O grande objetivo do tratamento da acne, no entanto, é estético a fim de evitar possíveis cicatrizes. Em geral o tratamento deve ser iniciado logo que o problema incomodar - desde os cravos, espinhas, também chamadas de pápulas e pústulas, até os nódulos que se apresentam em lesões maiores, com fístulas e abscessos. “Quanto mais precoce o tratamento mais fácil será evitar as acnes graves e cicatrizes", observa a dermatologista e professora assistente do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Luciana Baptista Pereira.
Os tratamentos em geral utilizam sabonetes, loções, antibióticos tópicos para uso externo e antibióticos orais, nos casos mais graves. Substâncias como peróxido de benzoíla e ácido retinóico, em loção, gel ou creme também agem na inibição da produção de sebo e da queratinização (excesso de formação de queratina que obstrui o folículo). Ainda pode ser indicado o uso de anticoncepcional com antiandrógeno que também inibe a produção da glândula sebácea.
Mas a isotretinoína tem sido a salvação para as pessoas que sofrem com a acne mais grave. A dermatologista Ana Cláudia Soares Benedicto explica que essa substância atua sobre a glândula sebácea, diminui a formação do sebo e normaliza a queratinização folicular que está alterada. O medicamento tem indicação de uso oral e a maior vantagem, segundo a dermatologista, é o resultado mais duradouro. Benedicto afirma que cerca de 90% dos casos são curados, mas 10% das pessoas têm necessidade de repetir o tratamento para conseguir a cura.
A dermatologista Luciana Baptista Pereira observa, no entanto, que o tratamento com a isotretinoína é caro, já que a dosagem do comprimido é determinada pelo peso do paciente. A indicação é de um miligrama por quilo de peso ao dia para atingir 120 a 150 miligramas por quilo de dose total durante todo o tratamento que pode variar de quatro a seis meses. O remédio na versão genérico, cerca de 50% mais barato, já começa a ser comercializado e em Belo Horizonte pode ser adquirido na Faculdade de Farmácia da UFMG, que fica na Avenida Olegário Maciel, 2.360, no Bairro Lourdes. O telefone é (31) 3339-7614.
Luciana Baptista observa que é preciso ter alguns cuidados com a ingestão da isotretinoína, já que ela é teratogênica, ou seja, causa malformação fetal. A mulher que fizer tratamento de pele com essa substância não pode engravidar, portanto deve usar um método anticoncepcional. A médica observa que a substância também provoca alguns efeitos colaterais como ressecamento da mucosa, dores de cabeça e muscular. Ela comenta que todo tratamento para acne provoca inicialmente uma piora na pele, mas depois a melhora é sensível. “É preciso ter persistência, já que o tratamento é prolongado e deve ser feito com acompanhamento médico periódico", afirma.

Estresse pode ser a causa em mulher adulta

A incidência de acne na mulher adulta está aumentando e ainda não há uma resposta que justifique o problema, mas uma suspeita. Dermatologista e professora assistente do Departamento de Dermatologia da UFMG, Luciana Baptista Pereira afirma que há uma suspeita de que a dermatose esteja associada ao estresse. O aumento da produção do andrógeno (hormônio masculino) pela supra-renal (glândula de resposta ao estresse) e alterações menstruais podem provocar acne após a adolescência.
A dermatologista Ana Cláudia Soares Benedicto explica que fatores emocionais - estresse e baixa resistência, por exemplo, desencadeiam alteração hormonal. Mas ela acredita que em muitos casos, a acne em mulheres adultas pode significar a persistência do problema que iniciou na adolescência e não foi tratado. Ela ressalta que a maioria das mulheres que têm ovário policístico (disfunção hormonal) apresentam acne. Nesse caso, muitas vezes é indicado o uso de pílula anticoncepcional que modula o ciclo menstrual e funciona como inibidor do hormônio masculino.
A dermatologista Ana Cláudia Soares Benedicto explica que o aumento exagerado da produção de sebo acontece devido ao estímulo hormonal e ao excesso de formação de queratina, que obstrui o orifício do folículo pilossebáceo impedindo que o sebo saia pelo orifício e com isso há formação de comedões (cravos). A médica explica que a retenção do sebo libera algumas substâncias que causam irritação e conseqüentemente surgem as inflamações. Ao mesmo tempo, acrescenta ela, o sebo é um meio propício à proliferação da bactéria Propionibacterium acnes que intensifica o problema.
Benedicto explica que existe uma tendência hereditária na acne. Quando os pais apresentam o problema, as chances de os filhos terem acne é de 50%. Há nove anos, o estudante de Medicina Júlio César Gomes Silveira, 23 anos, sofre com acne. Só aos 18 anos ele iniciou o tratamento tópico. Mas depois de um ano, a melhora foi parcial seguida de recidiva. A pele do rosto de Júlio Silveira estava tão prejudicada que ele optou pelo tratamento com isotretinoína. As doses deveriam ser tomadas durante seis meses, mas 90 dias depois ele precisou interromper porque os exames laboratoriais de rotina revelaram um aumento da enzima hepática.
Júlio César lembra que nessa época a pele já apresentava uma melhora sensível, Então ele reiniciou o tratamento, dessa vez com peróxido de benzoíla. “No início a pele ficou vermelha, mas rapidinho me adaptei. Hoje minha pele está ótima", afirma o estudante, que já não precisa mais inventar qualquer tipo de doença, menos assumir a acne, como fazia, para evitar eventos sociais. Ele observa apenas que o peróxido de benzoíla costuma manchar os tecidos, por isso é bom ter cuidado ao usá-lo. “Cheguei a perder várias blusas", comenta.
A dermatologista Luciana Baptista afirma que não existe qualquer trabalho científico que comprove a relação da acne com alimentação, principalmente com chocolate. Já com o período pré-menstrual, sim. Ela explica que nessa fase há uma maior produção do andrógeno. “No período menstrual muitas mulheres ficam mais ansiosas e ávidas por determinados tipos de alimentos, por exemplo chocolates, e por isso associam a ingestão do doce ao aparecimento da acne", comenta.