Depressão, o mal do século 

"É preciso saber que não é apenas a tristeza profunda que pode caracterizar a depressão. Insônia e ansiedade, em conjunto, são sintomas presentes"



Por Anna Marina

Está acontecendo na cidade, desde ontem, o Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Termina no sábado e reúne quase 4 mil profissionais da área, que discutem o mal do século. E para não passar de liso, trago para os leitores da página algumas informações sobre a depressão. Bem avaliada, é uma doença que, mais dia, menos dia, acaba batendo na porta de cada um de nós. O congresso é mais do que atual, principalmente quando se sabe que, na Europa, foi iniciado um movimento que busca dessacralizar o outro braço dos problemas da cuca, que é a psicanálise. O bafafá começou com a publicação do Le livre noir de la psycanalyse no qual Catharine Meyer juntou vários especialistas para avaliar a especialidade, considerada “custosa, não científica e perigosa”. Os balaços vão todos em cima de Freud. A contra revolução parte de um psiquiatra lacaniano, Charles Melman, autor de L’homme sans gravité” que reagiu prontamente, dizendo que o livro negro da psicanálise é apenas a expressão eterna do cientificismo que acredita poder curar o sofrimento, modificando o comportamento humano.

 
Então, viva a psiquiatria, que independe do divã, mas que também busca acabar com o sofrimento humano, através de medicamentos. É preciso saber que não é apenas a tristeza profunda que pode caracterizar a depressão. Insônia e ansiedade, em conjunto, são sintomas presentes em até 90% dos pacientes deprimidos. Segundo estudo do General Hospital Psychiatry, 50% das pessoas que procuram tratamento para insônia são portadores de depressão ou ansiedade. Mas apenas 46% deles buscam ajuda médica e 25% acham que o sintoma não tem nenhuma importância.

Os sintomas da depressão são muito variados e cada personalidade se manifesta de uma maneira na doença. Alguns sintomas podem, inclusive, confundir o paciente, que procura diversas especialidades médicas antes de chegar ao psiquiatra. Cerca de 81% das pessoas com depressão buscam inicialmente o médico não-especialista, prolongando o diagnóstico e tratamento da doença. Isso faz com que a maioria receba tratamento inadequado, tanto na escolha do medicamento quanto no uso de dosagem mais indicada.

Apesar de ser uma doença altamente prevalente (20% da população mundial) e debilitante, os índices de abandono ou descontinuidade do tratamento são muito elevados, o que pode agravar o quadro clínico. Cerca de 44% dos pacientes abandonam o tratamento antidepressivo após três meses e 25% mentem para o médico dizendo que está usando o antidepressivo adequadamente.

Existem atualmente três classes de medicamentos antidepressivos (Tricíclicos, ISRS e Dupla Ação), que podem produzir mudanças distintas nas diferentes dimensões dos sintomas da doença. Acredita-se que até 70% dos tratamentos antidepressivos sejam eficazes, desde que a escolha do medicamento e sua dosagem sejam adequadas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que nos próximos 20 anos, a depressão sairá do quarto para o segundo lugar no ranking de doenças dispendiosas e fatais. Deverá perder apenas para as enfermidades do coração.

O congresso anual da ABP que está acontecendo na cidade é o maior encontro psiquiátrico da América Latina e um dos maiores do mundo. Está reunindo não só psiquiatras mas médicos de outras especialidades, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, recreacionistas, demais profissionais da saúde, em especial saúde mental e estudantes.

fonte:Jornal Estado de Minas -13/10/2005

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