O diretor Renato, o ator Chico Anibal interpretando o Lund
e a produtora Lúcia Fares


Vista da sala de pesquisa onde catalogava suas descobertas para enviar à Dinamarca.

Em seu primeiro trabalho como diretor de cinema, o fotografo mineiro Renato Menezes documenta a vida e a obra do Paleontólogo dinamarquê Piter Lund.

O fotógrafo Renato Menezes é admirador confesso da pesquisa do paleontólogo dinamarquês Dr. Peter Lund. Formado num tempo em que se estudava mais , desenvolveu uma relação pessoal muito forte com Lagoa Santa. A mulher com quem é casado nasceu lá, cenário das descobertas mais importantes de Lund. Na década de 70, trabalhou na fotografia de um documentário dirigido por José Sette sobre Dr. Lund. Não poderia ser diferente. Em sua estréia, assinando direção e roteiro de seu primeiro longa, O Homem de Lagoa Santa, escolheu a história do paleontólogo para levar às telas. A produção entra esta semana em sua quarta e última fase de filmagens nas grutas Rei do Mato, em Sete Lagoas, e Maquiné, em Cordisburgo. Ouro Preto, Lagoa Santa, Pedro Leopoldo e Matozinhos foram utilizadas como locações. No elenco, nada de caras manjadas na telinha, mas atores com trabalhos reconhecidos no teatro em Belo Horizonte, como Chico Aníbal, Luiz Hippert e Helena Penna. Orçado em R$ 450 mil, O Homem de Lagoa Santa conta com o incentivo da Lei do Audiovisual e deve estrear nos formatos de vídeo e cinema em meados do ano que vem.
Prestígio
A obra de Renato Menezes pode ser comparada a uma saga, assim como a história de Lund, que viveu 50 anos em Lagoa Santa. O interesse em produzir o filme surgiu na década de 90, durante a Rio 92. Mas sem qualquer tipo de incentivo, não deu para seguir com o projeto adiante , lembra o diretor. Mineiro de Belo Horizonte, mas morando no Rio de Janeiro, nos anos 90 ele montou um escritório na capital mineira em busca de um produtor. Todos elogiavam a idéia, mas como estavam com projetos pessoais, não aceitaram o projeto , explica. A situação mudou há um ano, com o Grupo Novo de Cinema topando a empreitada. Renato não classifica seu filme como um documentário tradicional. Tem uma boa base de pesquisa feita a partir de um livro de Aníbal Matos, de uma coleção da Editora Brasiliense, e conto com uma assessoria do paleontólogo Castor Cartelli, mas acrescentei um pouco da mineiridade. O Dr. Lund que vou mostrar não é sisudo como um dinamarquês, conversa como mineiro , antecipa, acrescentando que os diálogos serão poucos. Parte do texto será feito em off por outro artista mineiro o nome ainda não foi escolhido e parte com depoimentos do ator Chico Aníbal, que interpreta o paleontólogo. Menezes espera ainda desmistificar muita coisa em torno do pesquisador. Ele não ficou louco como os europeus acreditam , sintetiza. Ele veio para Lagoa Santa para tratamento de saúde, dois irmãos havia morrido de tuberculose. Como poucos, Lund amava a vida. De forma alguma busca a glória em suas pesquisas , resume. Dr. Lund levou muito mais do que conhecimento científico a Lagoa Santa. Filho de pais muito ricos, ele doou o que pode para a região. Criou uma banda de música, ensinava as crianças a lerem, atendia como médico a população carente que o procurava , conta o cineasta. Lund manteve um contato intelectual muito grande com pesquisadores de todo o mundo. Fato constatado em mais de duas mil cartas trocadas entre ele e outros cientistas. Foi visitado em Lagoa Santa por todos os maiores naturalistas da época. Charles Darwin, o criador da teoria da evolução, reconheceu o trabalho do pesquisador e, em uma de suas obras, fez referência às suas pesquisas em Lagoa Santa , acrescenta Menezes. Prestigiado no meio científico, Lund não teve a mesma sorte com o grande público. Essa história não pode morrer , defende o diretor, acreditando na importância de seu filme como difusor do trabalho do paleontólogo.
Produção valoriza os profissionais mineiros.



O filme O Homem de Lagoa Santa não marca apenas a estréia de Renato Menezes na direção. Três dos 15 atores do elenco principal Chico Aníbal, Luiz Hippert e Helena Penna também dão as caras pela primeira em um longa. Novidade e tanto para o trio, que garante não ter sentido nenhuma dificuldade em encarar o set de filmagem. Chico Aníbal, que interpreta Peter Lund acredita que este ano viveu um momento de coincidências, todas convergentes para a tela de cinema. Fiz participações especiais nos curtas A Aposta e Dalmar e Rosália e, agora, a estréia em um longa , enumera o ator, há dez anos na companhia ZAP 18, de Cida Falabella. Outra coincidência: as filmagens bateram com o reinício da temporada de Sonho de uma Noite de Verão, em cartaz no Francisco Nunes. Às sextas-feiras, saio de Lagoa Santa, vou para Belo Horizonte e depois volto às filmagens. Uma correira danada, mas que vale a pena. Estou mergulhado em trabalho. Minha mulher e minha filha, que ficaram em Belo Horizonte, é que estão enlouquecidas com a minha ausência de casa , acredita. Vantagens da experiência do teatro para o cinema? Talvez a pesquisa para composição do personagem, porque, no geral, são linguagens bem distintas. O teatro exige a expressão do corpo. O cinema é mais contido , compara. Talvez a maior surpresa no elenco do documentário seja Luiz Hippert, que vive Brant, um norueguês que trabalhou como secretário e ilustrador do paleontólogo. Conhecido produtor e diretor o mais recente espetáculo foi a comédia Essa Velha é uma Parada , ele nunca havia pisado no palco, muito menos em um set de filmagens. Por timidez , brinca, satisfeito com o resultado obtido até aqui. O que o fez mudar de idéia? Cinema não é feito em frente a uma grande platéia , justifica. Tanto a escolha de Chico Aníbal, quanto a de Hippert foram feitas a partir do tipo físico de ambos, semelhantes ao do dinamarquês Lund e de seu secretário. Helena Penna também faz sua primeira personagem em cinema. Mas no teatro já trabalhei por seis anos , afirma. Deixei a carreira para me dedicar à música, pois as temporadas coincidiam com os shows, que geralmente acontecem aos finais de semana. Como uma coisa impedia a outra, decidi pela música , completa. A cantora interpreta Luzia, empregada de Dr. Lund. Não tive nenhum receio em aceitar o convite. E acertei na escolha. Como conhecia boa parte do elenco, o clima entre nós acaba criando uma cumplicidade legal , elogia, revelando o clima tranqüilo dos bastidores. O texto de todo o elenco é curto. Hippert quase não fala. Helena participou em cinco dias de filmagem. Em um deles, se emocionou ao compor quase imediatamente um de seus vocalizes. As notas vieram naturalmente e, depois, o Hippert entra em cena assobiando. Ficou bonito , conclui.

Helvécio Carlos - Estado de Minas 05.11.2001

O Homem de Lagoa Santa
Centenario do Lund