Morre aos 66 anos o artista Álvaro Apocalypse. Assíduo freqüentador da nossa cidade, mantinha aqui sua casa de campo, onde passava os finais de semana. Álvaro sempre foi um admirador de Lagoa Santa, construindo boas amizades na comunidade.

1937 - Nasce no dia 14 de janeiro, em Ouro Fino (MG)
1955 - Depois de desenhar muito em casa e copiar ilustrações de Portinari, Álvaro Apocalypse se inscreve no X Salão Municipal
de Belas Artes de Belo Horizonte e obtém menção honrosa em desenho. Entra para a Escola Guignard e Faculdade de Direito
1957 - A partir deste ano, depois de participar de salões e receber prêmios, inicia trabalho como ilustrador na imprensa mineira. Publica artigos sobre arte e participa de mostras
1959 - Convidado a dar aulas de modelo vivo na recém-criada Escola de Belas Artes da Faculdade de Arquitetura. Foi professor universitário antes mesmo de se formar, uma atividade que manteria por toda vida
1962 - Fundador primeiro presidente da Associação Mineira de Artistas Plásticos (AMAP). Ganha prêmios e participa de mostras e salões em vários estados brasileiros
1965 - Primeira individual. Além das pesquisas sobre cultura popular, passa a trabalhar com temática surrealista e a crítica social em seus trabalhos
1967 - Participa da implantação do Festival de Inverno, em Ouro Preto
1968 - Publica o álbum de gravuras “Minas, a terra, o homem”
1969 - Produz seu primeiro mural de grandes proporções. Prêmio do Salão da Aliança Francesa o leva a Paris para estudos de arte

1970 - Retorna ao Brasil. Cria, com Terezinha Veloso e Madu, o Giramundo Teatro de Bonecos. Encenação de “A Bela Adormecida”
1971 - Montagem de “Aventuras do Reino Negro”, que é apresentada na França, Argentina e Uruguai
1973 - “Saci-pererê” é a segunda montagem de um repertório que chegará a 27 trabalhos.
1975 - “Um Baú de Fundo Fundo”
1979 - “Cobra Norato”, um dos espetáculos mais premiados e admirados do grupo.
1980 - “Massa Corrida”
1983 - “As Relações Naturais”
1984 - “Auto das Pastotrinhas”
1986 - Montagem de “O Guarani”. 1990 - Atua como professor no Ateliê de Tecnologia do Instituto Internacional de Marionetes de Charville-Mèziéres, na França
1991 - Montagem da ópera “A Flauta Mágica”, de Mozart, com marionetes com até 2 metros de altura
1993 - Adaptação de “Pedro e o Lobo”, conto sinfônico de Prokofiev
1996 - “Carnaval dos Animais” e “Diário de um Louco”
1998 - Exposição “Desenhos para teatro de Álvaro Apocalypse”
2000 - Inaugura o teatro Giramundo
2001 - “Os Orixás”
2003 - Exposição e retrospectiva de trabalhos em “Mundo Giramundo”, no Sesc Santo André, em São Paulo. Morre, aos 66
anos, em Belo Horizonte

Fonte: “Álvaro Apocalypse” - Coleção Circuito Atelier, 2001

O senhor dos bonecos Há mais de trinta anos Álvaro Apocalyse, através de sua arte, vem levando crianças e adultos para o mundo da imaginação. Conhecido internacionalmente pelo seu trabalho com bonecos, é um artista simples e que gosta de aproveitar bem a natureza. Por isso, escolheu Lagoa Santa para morar há 40 anos. "Descobri a cidade porque vim passar um final de semana na casa de amigos. Gostei tanto que comprei um lote. Assim que me casei, construimos nossa casinha, pois eu e minha esposa queríamos um lugar tranqüilo para viver e criar filhos. Depois veio o período de escola e como, naquela época, não tinha aqui a oferta de escolas de hoje, voltamos para Belo Horizonte. De lá para cá, estamos sempre entre as duas cidades", conta. Álvaro tem um currículo enorme, mas basta dizer que é um dos cria- dores do Giramundo, pois só este trabalho já é uma grande contribuição para a cultura brasileira. Junto com as artistas Terezinha Veloso (sua esposa) e Maria do Carmo Vivácqua Martins (Madu), criou o Grupo Giramundo em 1970. Desde então, muitas dificuldades (porque fazer arte no Brasil não é brincadeira), 25 espetáculos e um grande acervo de bonecos, cenários, trilhas sonoras e projetos. "Na verdade, ele é considerado mais como um Centro de Pesquisas e de Criação do que um grupo convencional de teatro, pois o Giramundo procura praticar, preservar e divulgar o Teatro de Marionetes em suas mais variadas formas", conta. Segundo Álvaro, os espetáculos são geralmente o produto final de determinada pesquisa feita pelo Grupo e sempre tentam resgatar valores da cultura nacional. E hoje o Giramundo está em intensa atividade. Conseguiu, após muita batalha, através de leis de incentivo à cultura e de doações, construir um teatro, um museu e uma escola para a formação profissional de marionetistas. Teatro Em toda a sua história, o Giramundo nunca contou com uma sala de ensaio. "A gente ensaiava na oficina, empurrando as mesas e bancas de trabalho, sem efeitos de luz e cenário", lembra Álvaro. Somente no ano 2000, o Grupo conseguiu alugar um espaço. O Teatro Giramundo, com 120 lugares, oferece também uma sala com equipamentos de som e luz onde os artistas podem ensaiar, experimentar e divulgar os espetáculos. Ele também é aberto para apresentações de outros grupos, além de desenvolver atividades educacionais para as escolas infantis."O Teatro vai nos permitir remontar 21 dos 25 espetáculos que produzimos ao longo destes anos e sempre estaremos com alguma montagem em cartaz", conta. Até o final de maio, aos sábados e domingos, sempre às 16:30 horas, pode ser assistida "Carnaval dos Animais" (leia abaixo). O Teatro fica na avenida Silviano Brandão, 1096, bairro Floresta, em Belo Horizonte, fone (31) 3446-0686. Lá está também a Escola das Artes do Marionete, AEM, que oferece oficinas para roteiro, criação e manipulação dos bonecos. A Escola tem levado cursos também para o interior do Estado e em festivais culturais. Museu Segundo Álvaro Apocalypse, por diversas vezes os espectadores pediam que os bonecos ficassem expostos em algum lugar para que pudessem ser visitados por todos em qualquer época. Daí surgiu a idéia do Museu do Giramundo. E, infelizmente, Lagoa Santa perdeu a oportunidade de ser a sua sede. Após inúmeras tentativas há alguns anos, a idéia foi abandonada porque a administração municipal não conseguiu recursos para implantar o projeto. O sonho era reformar e ocupar o antigo Clube Joá à beira da lagoa que hoje continua abandonado e em ruínas. Depois de tentar também nas cidades de Ouro Preto e Cataguases, o Grupo acabou construindo em Belo Horizonte, pois já era proprietário de um lote no bairro Floresta. Com doação de uma empresa e muito trabalho, conseguiu aos poucos, construir o Museu Giramundo. Nos seus três andares, o espaço abriga 800 bonecos, projetos técnicos de construção, trilhas sonoras, estudos, desenhos e fotografias. Ele fica na rua Varginha, 235, bairro Floresta, em Belo Horizonte. No final da nossa entrevista, Álvaro Apocalypse fez questão de enviar uma mensagem para os moradores de Lagoa Santa. Ele se diz admirado com o crescimento da cidade. "Lagoa Santa hoje é outra e tem uma ótima infra-estrutura. Fico feliz, porque apesar do desenvolvimento, ela não perdeu sua característica de lugar tranqüilo. Aqui ainda continua sendo um dos melhores lugares para se viver e eu aproveito para dar um grande abraço em todos da cidade, através deste Jornal",
fonte: O correio de Lagoa Santa
A perda é insuperável. Mas o rico legado permanece. De agora em diante, os planos do Giramundo, o mais importante grupo de teatro de bonecos do Brasil, é se manter fiel aos propósitos trilhados por Álvaro Apocalyspse. Principalmente em relação à criação de novas montagens, à pesquisa de bonecos e à experimentação de técnicas. Também é certeza de que os projetos em andamento vão continuar. A face institucional do grupo, materializadas no museu, no teatro e na relação com escolas, devem ser fortalecidos. Os projetos especiais também continuam.
Na área editorial, o criador já havia produzido três obras para a Coleção Giramundo Teatro e Livro – Pedro e o Lobo, Carnaval dos Animais e Bela Adormecida. Para o ano que vem, desejava publicar O Baú de Fundo Fundo. Na área do vídeo, recentemente lançou para a TV Escola o documentário Cobra Norato e, o próximo, previsto para ser lançado ano que vem, será Os Orixás. “Fortalecer esta parte institucional era um dos objetivos do Álvaro”, conta Marcos Malafaia, diretor de planejamento do grupo. Outra meta do diretor, a recuperação e reestréia das montagens que foram sucesso nos anos 70 e 80, também será mantida. Para os próximos três anos, o programa de restauração já tem os rumos definidos.

Jornal : Estado de Minas 08/setembro 2003