Maria Tereza Correia |
|
No terreno onde morou o
paleontólogo Peter Lund hoje funciona a escola
que leva seu nome. O dinamarquês marcou
definitivamente a
cidade |
"Por trás
das montanhas que encobrem a bacia do Rio das
Velhas, na base de sua região calcária, está
Lagoa Santa, a 37 quilômetros de Belo Horizonte,
na região metropolitana. No alto do Morro do
Cruzeiro é possível uma visão panorâmica do
município que cresceu em volta do espelho d’água
que sugere seu nome. Uma paisagem bem diferente
do antigo povoado fundado em 1733 pelo tropeiro
Felipe Rodrigues. As fábricas que por ali se
estabeleceram, aliadas à Base Aeronáutica
instalada após a Segunda Guerra Mundial,
transformaram o local em fonte de emprego e
renda para os moradores. Sem falar no turismo,
em grande parte movimentado pelas grutas, entre
elas a da Lapinha, consagrada mundialmente após
o trabalho do paleontólogo dinamarquês Peter
Lund, que chegou a morar por vários anos em
Lagoa Santa, explorando suas cavernas.
-A
população local demonstrou união e luta com a
emancipação do município, que deixou de
pertencer a Santa Luzia em 1938. Entre os
moradores que saíram pelas ruas contagiados pelo
som da banda que festejava a independência,
estava Manoel Ferreira Neto (Liliu). Hoje com 80 anos,
esse homem da terra pode ser considerado o
farmacêutico mais antigo da cidade. A farmácia,
de nome Nossa Senhora da Saúde, há 54 anos
abençoa os conterrâneos com remédios e fórmulas
que só “Seu Liliu”, como carinhosamente é
chamado, pode oferecer. E ele faz questão de
preservar o antigo armário de madeira onde
guarda os medicamentos, no balcão da loja. De
família tradicional, ele lembra do início do
vilarejo Lagoa das Congonhas do Sabarabuçu, que
mais tarde daria origem à cidade.
“Lembro que, na minha juventude, Lagoa
Santa era uma cidade bem pacata, com ruas de
terra. No tempo de chuva, uma cidade no barro, e
na seca, uma cidade na poeira”, conta, tomado
por um sentimento de nostalgia dos velhos
tempos. Ele explica que, na década de 40, a
cidade começou a se planejar com os primeiros
prefeitos. “Nessa época, muitos políticos da
capital eram atraídos para a região, já que
ainda era bastante tranqüila e tinha clima
ameno. Formaram até o grupo dos Amigos de Lagoa
Santa, mas na verdade eram chamados de amigos da
onça, pois nada faziam pela cidade”, diverte-se.
Seu Liliu recorda as histórias que ouvia dos
avós, ainda pequeno, sobre Peter Lund
(1801-1880), pesquisador dinamarquês que veio
explorar aquelas terras em busca de fósseis.
|
Maria Tereza Correia |
|
Seu Liliu guarda na memória
grande parte da evolução do
município |
“Foi
Lund quem fundou a banda de música Santa
Cecília, a mais tradicional até hoje. Para
estudar, ele se concentrava debaixo de um
pequizeiro, num acampado próximo do Centro. Eu
lembro, quando pequeno, de brincar perto dessa
árvore”, disse. A figura do paleontólogo já
pertence ao imaginário popular do município. Com
uma volta por Lagoa Santa, é possível perceber
que Doutor Lund foi imortalizado nas placas de
várias empresas e lojas, além de ter seu busto
em bronze instalado na praça que leva seu nome.
No seu entorno, funciona a Escola Municipal
Peter Lund, instalada no lote onde morava o
pesquisador. A destinação da área como um centro
de educação foi idealizada pelo próprio Doutor
Lund.
Entre as grutas exploradas pelo
pesquisador, a da Lapinha, a 20 minutos do
Centro de Lagoa Santa, é hoje a maior atração,
visitada, todos os dias, por centenas de
turistas, entre eles vários estrangeiros. Surgiu
a partir de rochas calcárias acumuladas em
camadas superpostas e trabalhadas pela erosão.
Entre estalagmites e estalactites, seus 511
metros de extensão e 40 metros de profundidade
permitem a visão de formas surpreendentes, com
destaque para a couve-flor, a cascata, a cortina
e as pirâmides. Um convite aos exploradores que
desejem conhecer o recanto que Lund desbravou e
Lagoa Santa guarda como um legado a seus
moradores e visitantes."
|