Capítulos da novela Confins x Pampulha
Inconformada, parte da sociedade belorizontina lamenta a transferência dos vôos para confins.

No Ar & em Terra

Confins: chegou a
hora da verdade

"Quanto mais se aproxima a transferência dos vôos do Aeroporto da Pampulha para Confins - a nova data é 14 de março -, mais ampla deve ser a cobertura do assunto, envolvendo jornais, emissoras de rádio e TV, revistas e outros meios de comunicação e debate de idéias.
Tomou-se uma decisão de cima para baixo, sem ouvir os principais interessados: os passageiros. Não venham dizer que foram feitas tantas Audiências Públicas, que de públicas não têm nada, já que são restritas, em locais reservados. Claro que a discussão desse tema não pode ser na Praça Sete, nem no Mineirão em dia de Atlético x Cruzeiro, mas poderia ter sido feita uma pesquisa entre os usuários dos dois aeroportos, a partir de novembro do ano passado - e esta consulta jamais existiu.
Todas as graves questões relativas ao Aeroporto Internacional Presidente Tancredo Neves, em Confins, vêm sendo feitas por órgãos e entidades que entendem pouco do assunto, e lhe dão um tratamento de tecnocratas, acostumados a decidir sobre o destino das pessoas sem sair de seus gabinetes. Cabe ao governador Aécio Neves liderar todas as gestões.
Nossa opinião é de que a transferência dos vôos não pode ser feita enquanto não se concluir a iluminação total da MG-10 até o terminal de passageiros; duplicação da pista em toda a sua extensão, permitindo velocidade de até 120 km/hora; retirada dos redutores de velocidade em locais perigosos, com alto índice de violência; implantação de serviços de ônibus Centro-Confins saindo a cada 20 ou 30 minutos de um terminal urbano; ampliação do serviço de táxis. Defendo ainda gratuidade de estacionamento, ampla e irrestrita, nos primeiros 3 meses da mudança. Que será traumática, não duvidem.
Uma medida que devia ser tomada há mais de 5 anos, sequer foi cogitada: a convocação, para a Superintendência da Infraero em Confins, de um competente funcionário de carreira, de experiência profissional comprovada, e testado no comando de importantes aeroportos, e que tenha capacidade de diálogo, prestígio, habilidade e capacidade de argumentação quando tiver de quebrar resistências. Acima de tudo, que vista a camisa. Se for mineiro, ou se tiver ligações mais fortes com MG, melhor para Confins.
A decisão - mudar ou manter o atual - cabe ao presidente da Infraero, Carlos Wilson, que está retornando de uma viagem ao exterior, onde fez tratamento de saúde e cirurgia. Deve reassumir o cargo e estudar com interesse o caso de Confins. Os remanejamentos são comuns na Infraero. Este mês, por exemplo, o superintendente da Pampulha, Mário Jorge F. Oliveira, foi transferido para Congonhas, o aeroporto nº 1 do Brasil, com movimento superior ao de Guarulhos. Foram 13,6 milhões de passageiros e 220 mil pousos e decolagens em 2004.
Seja quem for o futuro superintendente em CNF, ele terá de dedicar-se ao máximo, arregaçar as mangas, atirar-se à luta, convencer o mercado e o trade de que pretende fazer uma gestão marcante.
Tem de ser alguém verdadeiramente apaixonado pelos desafios, com a obsessão dos que buscam duros encargos, e não cômodos cargos decorativos; e capaz de abortar os problemas no nascedouro, e não depois que se avolumam e se tornam insolúveis.
Confins precisa, dramaticamente, de um superintendente que se envolva a fundo nas discussões e na busca de soluções; que perca noites de sono; e que não esmoreça nunca. O cargo exige vivência profunda em aeroportos e conhecimentos minuciosos de seus problemas. Alguém que saiba mensurar duas realidades completamente distintas: Pampulha e Confins.
Alguém que conheça, nas origens, as principais deficiências: precária via de acesso; percurso longo demais (e não há como encurtá-lo); falta de segurança; limitação de velocidade (com a burrice de dois redutores a 40 km justamente nos trechos mais perigosos da MG-10).
É muito fácil prometer obras emergenciais, mas se esquecem de que uma trincheira leva pelo menos 4 meses de obras; e um viaduto pode exigir até um ano. A extensão do metrô de Venda Nova a Confins pode consumir até uma decada, dada a morosidade com que foi implantado o atual sistema.
Pela veemência, até quem nunca me leu antes logo adivinha que se trata de um apaixonado por aviação e, logicamente, por aeroportos. Eles fazem parte de minha vida, e neles passei centenas de horas. Dos 65 aeroportos que a Infraero administra, conheço pelo menos 30 fora os das capitais - o que leva à conclusão de que já desci e embarquei em Ribeirão Preto, Macaé, Rio Quente, Catalão, Joinville, Navegantes, Foz do Iguaçu, Ilhéus, Porto Seguro, Londrina, Carajás, Caxias do Sul, São Pedro da Aldeia, Criciúma, Londrina, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Marília, Taubaté, Campinas etc.
Só em Viracopos, a partir de 1966, num Boeing 707 verde da Braniff, foram mais de 25 pousos e decolagens, a maioria em F-100 da TAM, a caminho de Indaiatuba (pista de testes da GM ou fábrica da Toyota).
Das capitais dos 26 estados, só faltam os aeroportos de Palmas, Macapá, Rio Branco, Porto Velho e Boa Vista. Na minha opinião, o aeroporto mais bonito e funcional é o novo Salgado Filho (Porto Alegre). O que mais me impressiona é Congonhas-SP, pelo espaço exíguo e complexidade das operações em tempestades e nevoeiros. Imagine-se a dificuldade daquela obra de construção do novo terminal com 8 portas automáticas de embarque, com mais de 20 aviões em posição remota. Um desafio gigantesco.
Quanto aos aeroportos de Minas, a partir de julho de 1964 - voando no Bonanza, DC-3 Manda Brasa ou Beechcraft do Gabinete Militar do Palácio da Liberdade - na administração de Magalhães Pinto, e nas seguintes, foram dezenas de pousos nos mais distantes rincões do Estado: Januária, Teófilo Otoni, Nanuque, Muriaé, Carlos Chagas, Caratinga, Varginha, Pouso Alegre, Divinópolis, Itajubá, Poços de Caldas, Araxá, Caxambu, Guaxupé, Machado, Alfenas, Três Corações, Santo Antônio do Amparo, Tupaciguara, Patos de Minas, Ipatinga, Gopv. Valadares, Montes C1laros, Ipatinga, Três Pontas, Barbacena, São Lourenço, Andrelândia, Araguari etc - pena que a maioria desses aeroportos esteja hoje ociosa.
Já na Cemig, voando de King Air, no período de 1977/87, foram outras tantas viagens: Juiz de Fora, São Sinão, Emborcação, Três Marias, Jaguara, Volta Grande, Nova Ponte etc. Com uma ressalva: os aeroportos construídos pela empresa estão entre os melhores do Sudeste brasileiro. Aquela velha obstinação de fazer bem feito.
Invoco esse 'glorioso passado' não em tom ufanista, mas para dizer à Infraero que talvez eu goste mais de aeroportos do que alguns de seus empregados, com a vantagem de não ser remunerado. E coloco à disposição da empresa todas as informações e testemunhos pessoais sobre mais de 250 aeroportos em 55 países, inclusive 80 nos Estados Unidos. Todas as datas e locais estão anotados nas agendas de viagem.
Há detalhes muito interessantes sobre aeroportos pouco conhecidos aqui, como os de Seattle, Pittsburgh, Cleveland, Phoenix, Nashville, Knoxville, Orange County, Jacksonville, San Diego, Madison, Milwaukee, Daytona, Hollywood/Miramar, Ft. Myers, Naples, Boca Raton, Palm Beach, Bradenton, Buffalo, Austin, San Antonio, Salt Lake City, St. Louis, Filadélfia etc. Temos muito o que conversar. Conhecimento é isso aí: para se compartilhar.
Estou certo de que o presidente Carlos Wilson vai entregar Confins a um superintendente altamente qualificado, à altura desta difícil missão de 'levantar' um aeroporto à beira da desmoralização, e chamado de elefante branco por muitos. Não é justo. Não pode ser assim. Então, mudar e escolher bem é vital: chegou a hora da verdade.

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Já que Confins será um tema dominante das próximas colunas, a gente se recorda - numa retrospectiva dos antigos superintendentes da Infraero - do bom trabalho de Valseni José Pereira Braga, pelo esforço para ampliar o relacionamento de Confins com as comunidades vizinhas, o trade turístico, fornecedores, entidades de classe, órgãos governamentais e formadores de opinião.

Valseni, com sua capacidade de diálogo, e bom entrosamento com seus parceiros, estava no meio de um importante trabalho de recuperação do aeroporto, quando foi transferido para Brasília, tendo à espera relevantes missões. Mas soube fazer amigos e colocou a Infraero sempre em evidência."

22 fevereiro, 2005
fonte: matéria publicada no Jornal Hoje em Dia do dia 17/02/2005