Funcionários
da prefeitura começam a limpeza depois que a água baixou. Usuários
criticam falta de estrutura |
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Lama,
poças de água, gente nervosa, compromissos cancelados e cerca de
70 vôos – entre pousos e decolagens – transferidos para
Confins entre as 19h30 de ontem e o meio-dia de hoje. Esse foi o
saldo deixado pela tromba d’água que atingiu em cheio o
Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, na noite de ontem, e
castigou toda a região. A previsão da Infraero é de que até o
meio-dia de hoje os vôos decolem e pousem em Confins, já que o
terminal está intransitável e precisará passar por higienização
e desinfecção. Ontem, vôos que decolariam com destino a São
Paulo, Brasília, Campinas e Rio de Janeiro foram cancelados ou
transferidos. O mesmo ocorreu com as aeronaves que vinham para
Belo Horizonte: tiveram que pousar no aeroporto internacional.
Por volta das 19h15, choveu forte na região da Pampulha e a água
começou a invadir o saguão do terminal de passageiros. Vinte
minutos foram suficientes para deixar um rastro de sujeira, lama e
prejuízos. A causa dos transtornos foi o transbordamento do córrego
Engenho Nogueira, que corta a região e que, em 2001 e 2003, já
havia provocado estragos.
Os passageiros contam que quando a água começou a entrar pelas
portas do saguão do aeroporto, muitas pessoas correram para o
segundo piso, onde funciona um restaurante. “Lia uma revista
quando ouvi a mensagem no microfone, pedindo que todo mundo
corresse para o segundo andar. Foi uma confusão. Ficamos mais de
uma hora para conseguir informações, um absurdo”, contou o mecânico
de aviões Josimar Alves de Castro, de 30 anos, que ia para Brasília.
Nos guichês das companhias aéreas, funcionários tentavam
colocar em ordem documentos, enquanto pessoal de limpeza tentava
empurrar a lama para fora do terminal. A pista do aeroporto não
foi atingida. A confusão se agravou quando os passageiros, em
meio a poças de água, tiveram que resgatar as malas na única
esteira de bagagem disponível no aeroporto. Uma passageira disse
que a água chegou a bater nos joelhos. A cena mais comum eram
homens de terno com sapatos nas mãos, andando descalços.
O analista de sistemas Luiz Cláudio Benguigui, de 42, que
viajaria no vôo de 19h45 para o Rio de Janeiro, estava caminhando
para a sala de embarque quando a água invadiu o terminal.
“Quando vi a água subindo tão rápido, pulei em cima de um
carrinho. Não dá para contar com um lugar que tem esse tipo de
estrutura.” Passageiros da Gol Linhas Aéreas que iam para Brasília
e, de lá, para Belém, ficaram nervosos quando souberam que a
aeronave que faria o vôo tinha pousado em Confins e decolou, sem
esperá-los. A Gol foi a única companhia a providenciar vans para
os passageiros, que decolaram de Confins ontem mesmo. Passageiros
dos vôos da empresa que foram cancelados foram levados para hotéis.
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Confusão
marca mudança de vôos
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A apenas cinco dias da maior mudança já feita no sistema
aeroportuário de Minas, a transferência de 120 vôos diários
da Pampulha para o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em
Confins, ainda é uma incógnita para os passageiros. Usuários
que embarcam e desembarcam com freqüência em Belo Horizonte
desconhecem informações básicas sobre as alterações, como
horários de pousos e decolagens, localização, trajeto e
formas de acesso ao terminal da região metropolitana. Até
ontem, a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária
(Infraero) não havia começado uma campanha de divulgação ao
público.
O diretor do Sindicato Nacional dos Aeroportuários, Leandro
Castro Pinheiro, acusou a Infraero de quebrar a promessa de
fazer ampla divulgação. “A maior parte das pessoas não sabe
o que está acontecendo, principalmente aquelas que viajam
pouco. Desde o início, a empresa alegou que isso seria feito
antes das alterações”, criticou.
A Infraero admitiu o atraso na veiculação de peças publicitárias.
Anúncios em rádio, TV, jornais, outdoors e revistas de bordo,
alega a empresa, já estão preparados, mas só podem sair do
papel após publicação da portaria que autoriza a mudança dos
vôos pelo Departamento de Aviação Civil (DAC). Apesar de
todos os detalhes já estarem acertados, sem ela, a transferência
não existe oficialmente.
Nota oficial O DAC informou ontem, em nota oficial, que a
portaria será publicada nos próximos dias. O documento deve
ser assinado pelo diretor-geral do órgão, brigadeiro Jorge
Godinho, e depois publicado no Diário Oficial da União. Caso a
assinatura ocorra hoje, somente amanhã, a quatro dias de
Confins passar a receber 8,2 mil passageiros por dia, o processo
será encerrado e a campanha autorizada.
O superintendente do Aeroporto de Confins, Cláudio Figueiredo
Salviano, atribuiu a demora na divulgação ao lento e
desgastante processo de transferência, rejeitado por parte dos
usuários e, principalmente, do empresariado. “A mudança dos
vôos foi difícil, muito negociada e envolveu vários atores.
Creio que, por isso, houve esse atraso”, explicou.
Salviano garantiu, no entanto, que um grande esquema será
montado, sobretudo nos primeiros dias, para evitar confusões.
“Vamos divulgar um número de telefone gratuito, no qual os
usuários poderão se informar sobre todos os detalhes, como horários
de vôos e de ônibus para o aeroporto. Além disso, fora o
posto de informações com que já contamos, vamos
disponibilizar mais dois para prestar informações aos usuários”,
adiantou ele, que teme confusões, principalmente, porque alguns
vôos permanecerão na Pampulha.
DETALHES “Sou do Rio de Janeiro e, por isso, conheço
pouco a cidade. Não tenho nem idéia de onde fica Confins e
como faço para chegar até lá”, reclama, na Pampulha, a
funcionária pública Graça Maria Teixeira Beça, de 52 anos,
que vem a BH uma vez por semana participar de um curso.
“Gostaria, por exemplo, de saber como vai ser o sistema para
comprar passagens para os vôos que vão permanecer aqui.
Certamente vão ser mais caros, mas ainda não apareceu ninguém
que esclarecesse isso”, alegou.
“Está faltando um pouco de empenho na divulgação. Afinal,
BH é um pólo econômico”, reivindicou a publicitária Tânia
Barros, de 41, que uma vez por mês vem de São Paulo para a
capital e ficou sabendo da transferência por um taxista, pouco
antes da partida.
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CONFINS
Reformas a toque de caixa
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Às vésperas de se
transformar no mais movimentado terminal aeroportuário
de Minas, o Aeroporto de Confins era, ontem, um imenso
canteiro de obras. Comerciantes, empresas aéreas e operários
contratados pela administração do terminal trabalhavam
a toque de caixa para fazer as reformas necessárias ao
atendimento dos cerca de 3 milhões de passageiros
anuais esperados.
A Infraero investiu R$ 8,2 milhões em uma série de
intervenções, entre elas a ampliação das pistas de
taxiamento, a reforma das salas de embarque e a
revitalização de pontes e esteiras para bagagens.
Contudo, pequenas obras, como a automação dos
estacionamentos e a construção de uma passarela de
acesso à área reservada para carros, ainda estavam em
andamento. O superintendente do aeroporto, Cláudio
Figueiredo Salviano, garante que tudo estará pronto até
domingo, quando os vôos serão transferidos.
Na tarde de ontem, os guichês da maioria das companhias
ainda estavam cobertos de tapumes. A TAM, por exemplo,
teve cinco dias para se adequar. “É pouco tempo, mas
estamos acostumados”, afirmou, bem-humorado, o gerente
de atendimento da empresa, Éden Pisani, responsável
por transformar uma área de 386 metros, praticamente
abandonada há cinco anos, em espaço para 90 funcionários
e 2 mil clientes diários.
Os passageiros que passarem por Confins vão contar com
cerca de 20 lojas, entre agências bancárias, correios,
restaurante, choperia, locadoras de veículos e
engraxataria. Mas vários serviços, que dependem de
licitação, vão demorar a ser inaugurados. |
Cristiana Andrade
Fábio Fabrini
fonte: Jornal Estado de Minas - do dia 08/03/2005 |
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