Descaso do Patrimônio Cultural de Lagoa Santa


 Muito se fala sobre o patrimônio cultural e artístico e as riquezas arqueológicas internacionalmente conhecidas de Lagoa Santa, mas pouco se discute acerca de sua ação direta sobre os moradores, verdadeiros portadores de tais bens, sobre a identidade cultural do município e sua memória.

 A vulnerabilidade do patrimônio edificado existente aliada à crescente corrida imobiliária tem deixado marcas em toda cidade. Autênticos exemplares do período colonial, como a Igreja do Rosário, e também do estilo modernista, como o antigo Clube Recreativo, localizado às margens da lagoa, têm desaparecido aos olhos dos moradores sem que estes ao menos saibam de sua real importância.

 Existe, de fato, certo preconceito em se preservar o “velho”, acreditando que implicaria em excessivos gastos com manutenção, ou que tal edificação não mais seria condizente com novos costumes ou demandas. A negação dos valores culturais de determinado povo culmina em verdadeiro sentimento de alienação, como se sua cultura e história não fossem relevantes ou dignas de atenção. Não valorizar seus bens culturais significa renegar sua própria origem, identidade e condição histórica, culminando, fatalmente, em atraso cultural.

 Ao contrário, preservar o antigo não significa retardo de desenvolvimento ou estagnação. O povo deve, a partir daí, compreender um novo sentido para preservação, onde não apenas os valores do patrimônio erudito têm relevância, mas especialmente o patrimônio popular local.

 O que vem ocorrendo em Lagoa Santa é a substituição de bens de grande valor histórico-cultural em favor da má arquitetura que além de não colaborar com a conformação da paisagem urbana, intensifica a degradação da paisagem natural existente.

 Deve-se incentivar a criação de um Conselho Municipal de Patrimônio Cultural que incentive a política de proteção ao patrimônio e à memória através de registros, inventários e dossiês de tombamento dos bens. Para isso é necessária a educação dos moradores locais a fim de que a proteção e conservação dos bens aconteça e a sua promoção ocorra de maneira espontânea e crescente por toda a comunidade da cidade.

 

 
André Soares Gabrich

Arquiteto e Urbanista graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais

e cidadão Lagoa Santense

 


Casarão da rua Conde Dolabela 100 centro, tombado pela Prefeitura no dia 04 de maio de 2005 - antes e depois da demolição.

Igreja do Rosario em ruinas.
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