Terça-feira,
23 de Janeiro de 2007, 00h01 Andaime de 55 m cede e mata 3 operários |
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Um andaime de
aproximadamente 40 m, construído sobre uma estrutura a 15 m do solo,
dentro de uma chaminé da empresa Cimentos Liz Soeicom – Sociedade de
Empreendimentos Industriais e Mineração, caiu ontem causando a morte
de três funcionários.
A estrutura havia sido montada pela Steel Engenharia, contratada para prestar o serviço de manutenção do tubo, que tem 75 m de comprimento e 3 m de diâmetro. O acidente aconteceu por volta das 11h, na unidade da Liz Soeicom em Vespasiano, na Grande Belo Horizonte. Quando o andaime se rompeu, 26 homens trabalhavam no local e começavam a desmontar a estrutura. Desses, oito conseguiram sair sozinhos e 15 ficaram presos às ferragens. Os 23 sobreviventes se feriram, sendo que quatro deles estavam ontem em estado grave. Em nota, a Soeicom comunicou que os funcionários atingidos eram da empresa Steel, credenciada para serviços de manutenção. A empresa informou que foram realizados todos os esforços junto ao Corpo de Bombeiros, prefeituras de Vespasiano e Lagoa Santa, Polícia Militar e Defesa Civil no sentido de agilizar e minimizar os impactos desse incidente. Apesar da gravidade do acidente, uma funcionária do escritório da Steel Engenharia, no centro da capital, disse que a empresa não iria se posicionar. O funcionário de um outro escritório, no bairro João Pinheiro, informou que a empresa estaria dando assistência aos acidentados menos graves com o fornecimento de remédios. “Não temos mais nada a declarar”, afirmou. Cristiano Henrique da Cruz, 25, que sobreviveu ao acidente, informou ontem que os operários estavam fazendo o desmonte da estrutura pelo sistema chamado de Formiguinha. “Fica um funcionário em cada andar da estrutura e as partes desmontadas são descidas passando de mão em mão. Mas como não havia gente suficiente, parte das peças desmontadas ainda estava sobre a estrutura, o que pode ter forçado a base do andaime”, disse. Ele informou que todos os funcionários usavam equipamentos de segurança completos – óculos, capacete, botas – e estavam ligados à estrutura por cintos. Equipes do Corpo de Bombeiros, compostas por 34 homens e oito viaturas; da Defesa Civil e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ajudaram no resgate das vítimas. Dois helicópteros do Instituto Estadual de Florestas (IEF) foram usados para o transporte dos feridos. Eles foram levados para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) e para o Hospital de Pronto-Socorro de Venda Nova, na capital, e também para uma policlínica de Vespasiano. Poucos minutos depois do desabamento do andaime, parentes e amigos dos funcionários da Soeicom foram para a porta da empresa em busca de informações sobre o acidente. As primeiras informações só chegaram cerca de 30 minutos depois, passada pelo diretor comercial Bruno Borer, de que as vítimas eram todos funcionários da Steel Engenharia, empresa terceirizada responsável pela manutenção das torres. A mulher do mecânico José Maria Faria de Vasconcelos, um dos operários que trabalhava na limpeza da chaminé, não conseguiu esconder a emoção de ver o marido saindo ileso do acidente. “Estava muito angustiada. Ninguém informava nada para nós. Nessas horas não sabemos o que fazer”, disse a dona de casa Cissa Massoc Vasconcelos. Sindicato “É prematuro afirmar qualquer coisa. Um engenheiro da Soeicom e os bombeiros afirmaram que todos os operários estavam devidamente equipados: capacete, botina de couro e óculos de proteção. Mas a estrutura das peças é muito pesada”, disse Silva. Segundo Silva, o Ministério do Trabalho irá encaminhar ao sindicato uma cópia com o resultado do laudo do levamento realizado pelos fiscais da Delegacia Regional de Trabalho (DRT) da capital. Mas, segundo ele, ainda não há previsão para a conclusão. (Com Frederico Gontijo) DRT deve multar Steel Engenharia A Steel Engenharia, empresa terceirizada responsável pelos trabalhos de manutenção na chaminé da Soeicom, deverá ser multada pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT). Os valores ainda não foram calculados e deverão ser fixados com base em laudo técnico a ser feito por uma equipe enviada ao local ontem. O documento deve ficar pronto em até três dias, segundo o chefe da DRT, Antônio Roberto Lambertucci. A vistoria, informa, vai analisar problemas relacionados à falta de segurança na obra de limpeza e indicará, inclusive, a necessidade de interdição, conforme o tipo de situação encontrada. Caso as alegações de uma das vítimas do acidente se confirmem, a Soeicom também poderá ser responsabilizada por omissão, mesmo na figura de contratante do serviço. “É um fato lamentável porque a construção civil no Brasil tem reduzido o número de acidentes e primado com as questões relacionadas à segurança. Entretanto, muitas vezes, a empresa não cuida de fiscalizar a empresa terceirizada”, afirma Lambertucci. Segundo informações do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), a entrada de um fiscal do órgão no local do acidente foi impedida. Segundo a assessoria do Crea, a alegação da empresa para impedir a entrada do fiscal estava relacionada a questões de segurança. Hoje, o conselho deverá emitir um relatório sobre a situação da documentação da obra. A Soeicom não se manifestou sobre esse fato. Local foi vistoriado antes do acidente, diz operário Entre os sobreviventes que trabalhavam no desmonte do andaime que desabou ontem, em Vespasiano, está o montador Cristiano Militão. Ontem, internado no Hospital de Pronto-Socorro João 23 (HPS), operário relembrou os momentos de horror que passou. Ele disse que tudo foi muito rápido e que, na hora do acidente, pensou que todos iriam morrer ali mesmo. “O barulho foi enorme e depois da queda o desespero foi geral. Enquanto eu tentava ajudar meu irmão, ouvia um colega de trabalho pedindo por socorro até sua voz parar de chamar. Como não havia condições de iluminação suficientes, não consegui ajudá-lo”, relatou. Ele disse que antes de os funcionários chegarem à metade do desmonte da estrutura, houve um grande estrondo e a estrutura caiu verticalmente. Militão disse que técnicos em segurança Soeicom vistoriaram o andaime algumas horas antes do desabamento. Segundo ele, os técnicos não subiram na estrutura, fazendo a liberação do serviço sem checar todos os detalhes. A assessoria da Soeicom foi questionada pela reportagem sobre essa vistoria, mas até o fechamento desta edição não havia dado retorno. Dos acidentados, quatro foram atendidos no HPS. Edson Almeida Dutra, 33, sofreu trauma no tórax, fraturou o ombro e o fêmur direito. Cristiano Cruz, 25, teve os dois braços e a perna direita fraturados, além de trauma toráxico. Os irmãos Cristiano Militão Lopes, 28, e Luciano Augusto Militão Lopes, 25, sofreram lesões toráxicas. Luciano ainda fraturou o tornozelo. Segundo informações do hospital, o estado dos trabalhadores é considerado de gravidade média. |
Parentes sofrem com desinformação Familiares das vítimas do acidente em Vespasiano reclamaram ontem da falta de informações. Durante cerca de seis horas – tempo que durou o resgate dos operários terceirizados que trabalhavam em uma chaminé da empresa Soeicom –, a empresa tornou público apenas um comunicado superficial que não detalhava o que tinha acontecido. O Corpo de Bombeiros, por volta das 17h20, repassou informações datalhadas da tragédia, informando os números de funcionários que faziam a limpeza da chaminé e óbitos. O açougueiro Ronaldo da Silva, 37, ficou sabendo da morte do irmão, Vanderlei da Silva Lino, pela imprensa. “Isso é uma falta de respeito. Cheguei na recepção para saber mais informações do meu irmão e não tive nenhum retorno. Um dos vigias disse que só repassaria algum dado quando a imprensa se afastasse do local”, informou. Ele acrescentou que foi até a Soeicom porque a mãe se encontrava em estado de choque, pois havia recebido a notícia por um vizinho. Segundo a Delegacia Regional do Trabalho (DRT), familiares e vítimas podem procurar a entidade para obter orientações sobre direitos de indenização, no plantão fiscal da rua Tamóios, 596, 4º andar, no centro. Representantes da Prefeitura de Vepasiano estiveram na portaria principal informando a relação dos feridos encaminhados ao pronto-atendimento municipal. Das oito vítimas que foram levadas àquela unidade de saúde estava Odair da Silva, 21. Somente após uma via-crúcis por hospitais de Belo Horizonte, sua irmã, Sônia Aparecida Santos, 37, ficou sabendo do destino dele. Grávida de nove meses, ela protestou contra a falta de respeito da empresa. “Fiquei sabendo que meu irmão estava ferido porque um colega, que também se machucou na tragédia, entrou em contato com minha família. Ninguém me informou que ele foi atendido na cidade”, ressaltou. Pouco tempo depois de ter chegado à empresa, um parente ligou no celular para avisar que ele já estava em casa. “Foram os próprios doentes que nos ajudaram na busca. Ninguém estava falando nada, só depois descobri que tinha alguém da prefeitura com uma lista”, disse. Causa de desabamento ainda é desconhecida Em nota enviada no final da tarde de ontem à imprensa, a Soeicom informou que o acidente que causou a morte de três operários aconteceu durante a desmontagem de um andaime na chaminé do eletrofiltro, durante uma grande parada usual do forno para revisão, manutenção e recuperação dos equipamentos. O desabamento ocorreu por causa ainda desconhecida, segundo informou a empresa. O informe diz que a Steel, empresa especializada e credenciada de andaimes, trabalha há menos três anos com a Soeicom, nunca tendo havido nas instalações em Vespasiano qualquer acidentes. “A Soeicom nunca teve conhecimento de algum acidente envolvendo a referida empresa, que está a assegurar e a prestar apoio possível nessas situações, às famílias de seus funcionários acidentados”, diz a nota. A Soeicom lamenou o acidente e agradeceu a eficiência e solidariedade na ação de resgate do Corpo de Bombeiros, das prefeituras de Vespasiano e Lagoa Santa, polícias Civil e Militar, Defesa Civil e hospitais e algumas empresas vizinhas. fonte: Jornal Tempo On-Line |
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