O diagnóstico de câncer de mama é um momento difícil na vida de qualquer paciente. Não se pode negar. É uma doença que assusta mesmo as mais corajosas. Entretanto, é preciso ter em mente que, ano após ano, novidades contra a doença estão chegando. Com potência maior e mira mais apurada. Foi o que se viu durante o 42º Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, ocorrido na última semana em Atlanta, nos Estados Unidos. É o encontro mais concorrido da especialidade no mundo. E um dos seus pontos fortes nesta edição foi justamente o combate a este tumor que anualmente faz mais de um milhão de novas vítimas no mundo. Só no Brasil, estima-se que 48,9 mil mulheres desenvolverão esse mal em 2006. Uma das novidades apresentadas refere-se
ao que pode ser chamado de “coquetel” contra o câncer. É uma alusão
ao nome dado à terapia usada contra
Os médicos não se referem à quimioterapia convencional, que soma compostos para formar regimes de tratamento. O que os especialistas pretendem é combinar os efeitos das drogas mais modernas aos produtos tradicionais ou prescrever as substâncias de novíssima geração para consumo ao mesmo tempo ou de modo seqüencial. Isso porque esses medicamentos são caracterizados, em sua maioria, por eficácia no impedimento de um dos diversos mecanismos que ajudam as células malignas a se proliferar. Alguns, por exemplo, inibem o crescimento dos vasos sangüíneos que alimentam os tumores. E todos agem basicamente sobre as células doentes e não danificam as células sadias. São as chamadas target therapies, ou medicamentos que atingem o alvo, em português. Por isso, se forem usados em conjunto, atacarão várias frentes simultaneamente e de forma precisa. Será como um bombardeio, mas com precisão cirúrgica. “Imagine o câncer como São Paulo. Estamos obstruindo a avenida Paulista. Só que há vias secundárias que escapam do bloqueio. Um coquetel poderia fechar essas rotas”, compara Paulo Hoff, oncologista do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. Um dos trabalhos a apontar conclusões animadoras deste caminho foi o que mediu a eficácia de duas formas de tratamento: a primeira usando uma combinação de drogas e outra apoiada em uma opção. A pesquisa foi conduzida pelo médico Charles Geyer, do Allegheny General Hospital, de Pittsburgh (EUA). O estudo comparou dois grupos de mulheres com grau avançado de câncer: 321 usaram capecitadine, um quimioterápico. Porém 160 delas adicionaram à terapia o lapatinib, uma droga ainda experimental criada pelo laboratório Glaxo SmithKline. Ela interfere na ação do HER2, uma proteína cuja produção é determinada por um gene (HER2/neu) e que está relacionada ao crescimento das células malignas. As mulheres que tomaram o novo medicamento ficaram quase nove meses sem que a doença progredisse. As demais, cerca de cinco meses. A investigação teve de ser encerrada porque não é ético deixar participantes de um estudo clínico sem receber um benefício dessa magnitude. O lapatinib deve ser submetido à aprovação pelo FDA, o órgão americano que fiscaliza medicamentos, no segundo semestre. A conclusão do trabalho instigou os médicos. “Os estudos demonstram três aspectos: ou os medicamentos dirigidos a alvos têm vantagens sobre a quimioterapia, ou trazem respostas quando ela não funciona mais ou complementam essa abordagem”, observa Carlos Barrios, professor da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre. Por que a estratégia não é adotada de
uma vez, já que os resultados dos medicamentos modernos têm sido bons?
Porque os efeitos colaterais são consideráveis. Há remédios de terapia-alvo
que trazem riscos cardíacos. Junto com o esforço para identificar as melhores combinações, a medicina também batalha para encontrar com mais precisão que pacientes serão beneficiados por quais tratamentos. Para isso, procura extrair mais informações a respeito do vilão. Uma técnica facilita esse trabalho, o microarray de DNA. É um exame que analisa diversos genes associados à doença. “É possível bloquear um gene superativo ou apontar um alvo específico para a criação de um medicamento”, diz Fernando Soares, diretor de pesquisa do Hospital do Câncer, de São Paulo. Nos Estados Unidos, esse método vem sendo empregado para que o médico defina que tratamento escolher para tratar uma paciente com tumor de mama.
Outra preocupação é com a qualidade da vida das pacientes. A médica Clarissa Mathias, do Núcleo de Oncologia da Bahia, apresentou um trabalho mostrando que o antidepressivo bupropiona pode ajudar nesse sentido. Freqüentemente, as vítimas se queixam da falta de libido causada pelo tratamento e a bupropiona reduz o problema. No estudo, 20 voluntárias foram analisadas. “Houve melhora significativa”, conta Clarissa. Só quem passou por isso sabe o quanto esse tipo de auxílio é importante. O casal Bianca Baeta e Marcelo Barros, de Brasília, por exemplo, enfrentou a dificuldade quando ela adoeceu. A compreensão das circunstâncias os fez superar a questão e os uniu ainda mais. Marcelo, inclusive, acompanhou as sessões de quimioterapia e radioterapia da esposa. “Além do amor, descobri uma amizade imponderável”, fala Bianca. Outra opção para aliviar o tratamento é a ioga. Um trabalho do M.D. Anderson Cancer Center, no Texas, revelou que a prática deixa as pacientes mais relaxadas e com melhor qualidade do sono. Todas essas novidades trazem esperança para aquelas que lutam para chegar a situações como a de Milziete Pereira, 34 anos, de São Paulo. Ela teve a doença há seis anos, está curada e muito feliz. Depois de vencer a batalha, realizou o sonho de ter um filho: a pequena Marília, de um ano e meio. Fertilidade
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