CÂNCER E A LEI
DIREITOS ASSEGURADOS NA LUTA CONTRA DOENÇA

O choque emocional sofrido pelas pessoas que descobrem
ser portadoras de algum tipo de câncer, no momento exato
do recebimento do diagnóstico da doença, é definido por
muitas delas como a sensação da queda em um abismo. Os
avanços da medicina, por sua vez, permitem que hoje o
paciente oncológico deixe de assumir a antiga postura de
condenado a uma sentença de morte e, com o apoio da
família, dos amigos ou voluntários, dê início imediato a
uma verdadeira luta contra o relógio para vencer a
doença.
O tratamento, mesmo quando se conta com a assistência do
Estado, é caro, por exigir, em quase todos os casos, o
uso de muitos remédios, alimentação especial e sessões
de radioterapia e quimioterapia. É exatamente para
alertar as pessoas sobre a série de direitos garantidos
na Constituição Federal – fundamentais para o paciente
com câncer, sobretudo os de baixa renda –, que têm
surgido publicações, como livros e cartilhas, que
abordam exclusivamente esse tema.

O lançamento da cartilha “Câncer: Faça Valer seus
Direitos”, pela advogada paulista Maria Cecília
Mazzariol Volpe, que teve aproximadamente 400 mil
exemplares distribuídos gratuitamente em todo o País,
nos últimos 18 meses, relata o drama vivido por ela
própria ao descobrir-se portadora de um câncer no
intestino, em 2002. A publicação tem como objetivo
orientar os pacientes oncológicos sobre como conseguir
usufruir de seus direitos, apresentando inclusive
modelos de requerimentos e a relação de documentos
necessários para obter os benefícios.
São medidas voltadas, sobretudo, para o levantamento de
recursos financeiros que podem e devem ser reivindicados
pelos doentes, dependendo do estágio da neoplasia (tumor
maligno ou benigno). A retirada do Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS), o recebimento de uma renda
mensal vitalícia destinada aos considerados
incapacitados para trabalhar e ainda o direito de
comprar automóveis com isenção de impostos e quitar o
financiamento de imóveis adquiridos através do Sistema
Financeiro de Habitação (SFH), constam na lista da
concessões especiais.
Em entrevista, por telefone, ao EM, a advogada Maria
Cecília explica que usou um vocabulário bastante
simples, para permitir que o paciente que não tem
condições de contratar um advogado possa buscar sozinho
os benefícios. “O exercício dos direitos não cura a
pessoa com câncer, mas com certeza contribui para
aliviar seu sofrimento. A briga para fazer valer a lei
nos dá ânimo para continuar a viver e lutar contra a
doença, servindo de coadjuvante no tratamento médico.
Experimentei e exercitei pessoalmente alguns desses
direitos e é exatamente isso que tento compartilhar, na
cartilha, com as demais pessoas que passam por situação
semelhante”, relata a advogada.

Fonte: Jornal Estado de Minas - 07 de março de 2004