Mês
de férias e praia. Entre as cidades praianas a que mais se destaca é Guarapari, que hospeda a maior colônia de Lagoasantenses nesta época. |
O
verão chegou, expor a pele, mas com proteção.
É hora de aproveitar o melhor da praia, clubes e cachoeiras. O calor convida
a ficar mais tempo na água, andar sem muita roupa e com calçados mais abertos.
Enfim, a pele fica mais exposta e desprotegida. Para que os momentos de lazer
não se transformem num tormento, é preciso seguir algumas recomendações dermatológicas,
já que o calor e umidade favorecem a proliferação de fungos e bactérias. Não
é raro o aumento da procura pelos consultórios de dermatologistas depois de
um fim de semana prolongado ou um período de viagem, devido à falta de cuidado
ao freqüentar ambientes com maior circulação de pessoas e animais.
As infecções causadas por fungos são conhecidas por micoses que, geralmente,
se manifestam com coceiras, pequenas vesículas nas bordas dos pés ou nos espaços
entre os dedos, descamação da pele. A dermatologista Maria de Fátima Melo Borges,
secretária da Sociedade Brasileira de Dermatologia/Seção Minas Gerais e preceptora
da Residência em Dermatologia da Santa Casa de Belo Horizonte, ressalta que
praias e piscinas não são os únicos lugares propícios à contaminação pelas micoses.
Explica que os fungos são organismos presentes nos seres humanos, animais, na
natureza, poeira da casa, roupas, solo sobre o qual se caminha em equilíbrio
e que preferem lugares quentes e úmidos para se desenvolver.
Fátima Melo explica que a pele tem uma barreira natural contra agressões do
ambiente. Mas quando a pele está úmida, ressalta, ajuda o fungo a encontrar
queratina macia e água suficiente para se proliferar. Ela observa que existem
pessoas que têm mais tendência a uma maior adesão dos fungos. Períodos de baixa
defesa do organismo, estresse, depressão, doenças infecto-contagiosas ou tratamento
com imunossupressores ou antibióticos também favorecem o desenvolvimento de
fungos.
A dermatologista orienta as pessoas a depois do banho, certificar-se de que
os espaços entre os dedos, virilha e outras dobras estejam limpos e secos. O
uso de talco entre os dedos, depois que a pele estiver bem seca, também é recomendado.
Deve ser evitado o uso de meias de lã, roupas apertadas ou sintéticas - incluindo
as íntimas, pois a transpiração somada ao calor propicia um ambiente ideal para
o fungo se desenvolver. Prefira as roupas de algodão.
Em piscinas, saunas, academias de ginástica ou dependências coletivas nunca
ande descalço, pois esses locais podem ser focos de transmissão de micoses.
Evite também o contato direto do corpo com bancos. A dermatologista ressalta
a importância de verificar se os objetos de manicure são esterilizados. Inspecione
os pés regularmente e observe se há ferimentos, vermelhidões e descamações na
pele. Mantenha sempre as unhas limpas e curtas. O uso de roupas sintéticas,
com elástico muito apertado, que promovam atrito nos locais e o uso prolongado
de roupas molhadas também representam um fator de risco para doenças.
Higienizar dobras
Virilha, axilas, pescoço, embaixo do busto, entre os dedos e secá-las corretamente
é fundamental para evitar o crescimento de bactérias. Essas regiões são mais
propícias ao acúmulo de umidade, devido à transpiração e a higiene inadequada.
A presença de pêlos nesses locais, os folículos pilosos, representam uma porta
de entrada para bactérias da flora natural da pele. Quando há quebra da barreira
natural, devido à exposição à umidade e ao calor, o corpo está sujeito às foliculites.
Evite ser mais um hospedeiro de larvas
Andar descalço pela praia e sentir a leveza da areia sobre os pés; ensinar as
crianças a deixar pegadas pela praia; e rolar nas dunas. Uma temporada na praia
é relaxante, mas alguns cuidados são importantes para evitar voltar para a rotina
com o corpo infestado de larva migrans, também conhecido como bicho geográfico
- parasita comum no intestino de cães e gatos. Quando o animal deposita suas
fezes na areia e terra e se existem ovos dos vermes nas fezes, com o calor e
umidade, eles evoluem e chegam a formar larvas que precisam encontrar hospedeiro
para completar o ciclo.
A dermatologista Maria de Fátima Melo Borges explica que a exposição à areia
da praia, grama e ambientes on de há circulação de animais e pessoas pode favorecer
a infecção pelo bicho geográfico, caso os agentes infecciosos estejam acumulados.
As larvas procuram a superfície da pele e penetra, provocando reações inflamatórias
que se manifestam com coceiras intensas, formação de bolhas de água, vermelhidão
na pele. A médica observa que no segundo ou terceiro dia, a pessoa infectada
percebe um trajeto na área atingida, como se fosse um desenho de um mapa, daí
o nome bicho geográfico.
Pelo fato de o homem não ser o hospedeiro natural, a larva migrans acaba morren
do. No entanto, a pessoa infectada normalmente não suporta o desconforto e a
indicação é procurar um dermatologista que vai avaliar a extensão do problema
e recomendar o tratamento. A médica afirma que é preciso ter cuidado ao pisar
descalço por muito tempo em ambiente úmido e areia fofa e quente da praia. Observa
que os animais geralmente preferem ficar próximo às barracas, onde conseguem
restos de alimentos. Por isso, quando for comprar comidas e bebidas lembre-se
de calçar um chinelo.
A dermatologista afirma que o tratamento para essas doenças de pele - micose,
foliculite, larvas migrans, é simples e passa por medidas preventivas e medicamentos
específicos externo para tratar bactérias e fungos ou combinado com remédio
oral, de acordo com a gravidade do problema. A médica acrescenta que é fundamental
melhorar as condições ambientais. Geralmente o diagnóstico é clínico, mas o
médico pode pedir exames laboratoriais para complementar. Fátima Borges orienta
as pessoas a não fazerem automedicação, principalmente com associação de remédios
que levam corticóide, antibacteriano e antifúngico. Ela explica que eles podem
não estar na dose adequada e algumas infecções podem ter os sintomas mascarados.
Bronze hoje, rugas amanhã
A exposição excessiva ao sol, além de aumentar os riscos de câncer de pele,
contribui para o envelhecimento precoce da pele. A dermatologista Maria de Fátima
Melo Borges explica que a pele bronzeada hoje enrugará mais cedo no futuro.
“Até os 18 anos, a pessoa já tomou mais de 80% de raios ultravioleta que a pele
pode tomar. A partir daí qualquer sol a mais vai ter um efeito cumulativo no
sentido de provocar problemas", afirmou. A pele sofre mudança na textura,
brilho, elasticidade e apresenta aparência mais rugosa, manchas claras e escuras.
Portanto, todas as pessoas, independente do tipo de pele, devem usar protetores
solares com FPS 15, no mínimo. Ele deve ser aplicado pelo menos meia hora antes
de se expor ao sol, já que precisa de um tempo em contato com a pele para que
proporcione a proteção adequada. A médica ressalta que todo filtro solar, independente
do FPS e de ser ou não resistente à água, deve ser reaplicado a cada duas horas
de exposição contínua ao sol, mergulhos, exercícios físicos e/ou transpiração
excessiva.
Já as feridas que não cicatrizam, pintas ou manchas irregulares que mudam de
tamanho, cor e forma, caroços e “verrugas" doloridas e sensíveis podem
ser sinais na pele que merecem uma visita ao dermatologista. Nesse caso, é preciso
procurar um especialista, para avaliar o problema e indicar o tratamento adequado.
Fátima Borges alerta para os perigos com as câmaras de bronzeamento artificial,
em que a pessoa fica exposta aos raios de forma concentrada e uniforme, sendo,
por isso, mais prejudicial do que na piscina ou na praia.
O ar livre e o contato com vegetação aumentam as chances de picadas de insetos,
também comuns em regiões de cachoeira e praia. Por isso, é importante ter sempre
à mão um repelente para espantar mosquitos indesejáveis. Outra dica é manter
um cortinado na cama, enrolá-lo depois de usar e agitá-lo à noite. Deixar o
ambiente bem arejado, fechar as janelas antes do anoitecer e deixar as luzes
apagadas ajuda a afugentar os insetos. Fátima Borges afirma que se a pessoa
for picada e ficar muito marcada, deve procurar orientação médica para evitar
cicatriz.
Luciana Neves
fonte: Jornal Hoje em Dia - 25/12/2002