Programa Bem Cultural Da Rede Minas traz, em cinco episódios, trajetória de Peter Lund

Depois de meses de pesquisa, viagens e entrevistas, o premiado programa Bem Cultural estreia, neste domingo 18 de março de 2012, às 19 h, uma nova série, em cinco episódios: a "Pré-História em Minas Gerais".

O programa vai apresentar os vestígios arqueológicos dos principais sítios de Minas Gerais, em especial, em Lagoa Santa e do médio Rio São Francisco. Nestas regiões estão as cavernas e grutas mais importantes do estado. Uma área reconhecida e estudada, desde séculos passados, por especialistas de todo o mundo. “Queremos mostrar para o público como um tema como a arqueologia, tão importante para Minas e para o Brasil, está diretamente ligado ao dia a dia das pessoas”, frisa Paulo Henrique Rocha, diretor do Bem Cultural.

Um dos focos principais da série é a trajetória do paleontólogo Peter Lund por Minas Gerais, enquanto esteve no Brasil, no século XIX. A série mostra também os desdobramentos proporcionados pelas descobertas deste pesquisador, conhecido como “pai da Paleontologia brasileira”, que influenciaram várias pesquisas e viagens de caráter científico-cultural pelo mundo.

Pesquisa marca a nova série
Graças à parceria da Rede Minas com a Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais), o Bem Cultural foi até a Dinamarca, lugar onde nasceu e viveu Peter Lund. A equipe conheceu os passos do paleontólogo e registrou os acervos preciosos de sua história. A elaboração do roteiro dos episódios levou em consideração, primeiramente, as especificidades dos campos da ciência que tratam de tempos imemoriais (bilhões, milhões e milhares de anos) e marcam a formação geológica da Terra e a evolução da vida terrestre, antes e depois da existência humana: a Espeleologia e a Geomorfologia (constituição geológica; grutas, cavernas, sumidouros); a Paleontologia (fósseis de animais, espécies extintas); e a Arqueologia (vestígios de ocupação humana, Arte Rupestre, transformações ambientais).

Primeiro Episódio “O mundo das cavernas”
Na estreia do programa, neste domingo (18), às 19h, entra no ar “O mundo das cavernas”, que trata do processo contínuo das transformações ambientais que sempre ocorreram no globo terrestre. O geólogo Augusto Auler e o geógrafo Luís Beethoven Piló falam sobre o tema, em que a Espeleologia e a Geomorfologia têm destaque, com locações e visitas em algumas das principais grutas, lapas e sumidouros da região cárstica do estado.

“O legado de Lund”
No segundo episódio (dia 25 de março, 19h), intitulado “O legado de Lund”, o programa enfoca a vida e a obra do naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund, que iniciou o estudo do período pré-histórico em Minas Gerais, quando aqui permaneceu no século XIX. De forma inédita, a Rede Minas revela o precioso acervo de fósseis que compõem a coleção de cerca de 12.000 peças que foram enviadas pelo naturalista à Dinamarca, hoje pertencentes ao Museu Zoológico de Copenhague. A equipe do Bem Cultural entrevista os pesquisadores dinamarqueses responsáveis por esses acervos, Birgitte Holten e Michael Sterll, e também especialistas brasileiros, como o paleontólogo da PUC-Minas, Cástor Cartelle, e a arqueóloga do Iepha-MG, Maria Elisa Castellanos Solá.

“No tempo dos animais gigantes”
No terceiro episódio (dia 1º de abril, 19h), o Bem Cultural vai entrar “No tempo dos animais gigantes” para mostrar o universo da paleontologia, a partir dos estudos precursores de Peter Lund em Minas Gerais. Há um verdadeiro tesouro pré-histórico guardado de forma subterrânea, incrustado em grutas e cavernas, fósseis de milhões de anos, de variados organismos que ajudam a contar a história da evolução de animais e vegetais que habitam hoje o planeta.

“O povo de Luzia”
O quarto episódio (dia 8 de abril, 19h) fala de nossa personagem mais famosa. No episódio “O povo de Luzia”, trata da história da Missão Arqueológica Franco-Brasileira liderada pela arqueóloga francesa Annete Laming Emperaire que, sob a chancela da Unesco, percorreu, na década de 1970, a mesma trilha deixada por Peter Lund na região de Lagoa Santa. Durante as escavações, desenterrou-se o fóssil humano com datação mais antiga do Brasil e possivelmente das Américas, com mais de 11 mil anos, que ganhou o nome Luzia.

“A arte rupestre”
O quinto e último episódio da série (dia 15 de abril, 19h), “A arte rupestre”, faz uma abordagem sobre os vestígios deixados pela ocupação humana pré-histórica em Minas Gerais, como cemitérios paleoindígenas e, principalmente, os excepcionais exemplares de pintura rupestre, com desenhos e formas gráficas de diferentes tipos e tradições, existentes em diversos sítios arqueológicos registrados durante as gravações.

Bem Cultural
O programa Bem Cultural propõe, por meio de documentários, uma reflexão sobre o patrimônio cultural mineiro nas mais variadas celebrações, formas de expressão, saberes e lugares. O programa procura compreender as particularidades de diversos cantos do território do estado a partir dos sujeitos que os habitam e os conformam. São apresentadas várias categorias de bens materiais e imateriais, sejam celebrações, formas de expressão, saberes e lugares, como também monumentos e objetos tradicionalmente reconhecidos. Além do diretor, Paulo Henrique Rocha compõe a equipe do programa o consultor do Iepha-MG, Jason Barroso Santa Rosa, a produtora Cristina Magalhães e o editor de imagens Guilherme Pedreiro. O Bem Cultural vai ao ar, aos domingos, às 19h.

Correios lançam selo em homenagem ao Pai da Paleontologia Brasileira
O trabalho de Peter Lund, considerado o Pai da Paleontologia no Brasil, foi homenageado pelos Correios através de um selo (de emissão especial) lançado no último dia 14 de junho de 2010 na cidade de Lagoa Santa (MG).
De autoria da artista Jamile Costa Sallum, o selo mostra, ao fundo, uma caverna localizada no interior do município de Lagoa Santa, no Estado de Minas Gerais, onde o Paleontólogo dinamarquês Peter Lund realizou suas mais importantes pesquisas e descobertas, e viveu a maior parte de sua vida, no século XIX. Ao centro, a imagem do pesquisador, na maturidade, simboliza sua dedicação à ciência e o apreço à Lagoa Santa. Foram utilizadas as técnicas de fotografia e computação gráfica.

Foram emitidos 300 mil selos, com valor facial de R$ 1,05 e pode ser adquirido nas agências e na loja virtual dos Correios (www.correios.com.br/correiosonline).


O dinamarquês Peter Wilhelm Lund, nascido em Copenhagen, capital da Dinamarca em 14 de junho de 1801, era filho de ricos comerciantes.

Diplomado pela Universidade de Copenhagem, guiado por seu ardente interesse pelas ciências naturais, veio ao Brasil pela primeira vez em 1825. Buscava não só dar continuidade a seus estudos botânicos e zoológicos, mas também à procura de um clima mais benéfico para sua saúde debilitada por doença pulmonar.

Estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde realizou um exaustivo levantamento de toda a vegetação da baixada fluminense. Realizou também estudos sobre o comportamento das formigas e procedeu à montagem de várias coleções zoológicas. Em 1829, volta à Europa, estabelecendo contato com as mais importantes autoridades em História Natural como Humbold e Cuvier, entre outras.

Em 1833 retorna, em caráter definitivo, ao Brasil. Ainda nesse ano, iniciou uma viagem para estudar a flora brasileira em companhia do botânico L. Riedel. No decorrer desta viagem, ao passar pela região de Curvelo, em Minas Gerais, encontrou um seu conteporâneo, o dinamarquês Peter Claussen, que explorava salitre nas cavernas calcáreas. Visitando então, as cavernas da região, Lund reconhece, pela primeira vez, as ossadas que se encontravam misturadas ao salitre. Diante destas descobertas, ele não hesitou e decidiu optar por uma nova área de pesquisas. Assim, após concluir os estudos "A Respeito da Vegetação dos Campos do Brasil", Lund fixou residência em Lagoa Santa, encontrando ali o lugar ideal para viver.

As primeiras grutas visitadas por ele na região foram a Lapa Vermelha e a Lapa Nova de Maquiné, tendo escrito com minúcias, os espeleotemas encontrados.

      "Todos estes deslumbrantes primores da natureza são realçados 

pelos mais delicados ornatos  tanto de formas fantásticas quanto de 

bom gosto, franjas,  grinaldas e uma infinidade de outros enfeites, 

cuja enumeração seria  fastidiosa e incapaz de dar idéia da  beleza 

do conjunto àqueles que não o viram com os próprios olhos".         

                                                             (Lund)

Nestas grutas foram encontradas, pela primeira vez, ossadas fósseis, destacando-se: o Smilodon Populator (tigre-dente-de-sabre), o Tatu Gigante e o Nortrotherium Maguinense (preguiça gigante). Eram fósseis notáveis pelo tamanho e de marcantes diferenças com seus similares mais recentes.

Lund pesquisou mais de uma centena de grutas, onde encontrou em torno de 120 espécies fósseis e 94 espécies pertencentes à fauna atual. A coleção de Lund é composta de espécies das seguintes ordens de mamíferos: Marsupiália, Chiroptera, Rodentia,Carnívora, Notungulata, Liptoterna, Artiodáctyla, Perissodactyla, Prosbocídea, Edentada e Primatas.

Suas pesquisas duraram 10 anos e a coleção, possuindo 14 mil peças ósseas, foi enviada para a Dinamarca, sendo posteriormente estudada por Herluf Winge e Reinhard.

Em 1844, Lund perde todo o seu vigor físico, abandonando as pesquisas de campo e passando a viver em completo isolamento, interrompendo, assim, todo o seu trabalho científico.

Lund - as várias facetas do cientista

Além de botânico, zoólogo e paleontólogo, Lund de também grande contribuição à arqueologia de seu tempo. Foi o primeiro a assinalar a existência dos sambaquis (montes de restos marinhos) no litoral brasileiro. Dava como certa a construÇão dos mesmos pelo homem e, assim sendo, se constituíam em valiosos sítios arqueológicos.

Fez mebção às inscrições rupestres encontradas em algumas grutas por ele visitadas e descreveu instrumentos líticos encontrados próximos às margens do Rio Tietê (SP) e em grutas mineiras.

Publicou diversos trabalhos junto à "Real Sociedade Científica Dinamarquesa", obtendo o reconhecimento dos grandes cientistas da época.

Foi ele também quem deu o primeiro passo para o estudo da ecologia brasileira, ao convidar o jovem botânico Eugene Warming para vir a Lagoa Santa fazer um levantamento dos cerrados na região. Um exaustivo estudo da vegetação foi então realizado, dando origem a um magnífico trabalho publicado em 1840 - o primeiro estudo mundial de Fitoecologia.

Lund - o homem

Além de grande cientista, Lund foi também o homem amigo e prestimoso para os habitantes da pequena Vila de Lagoa Santa, onde viveu os últimos anos de sua vida.

De hábitos bastante excêntricos e temperamento arredio, preferindo o isolamento, ele tinha, no entanto, constantemente a seu lado, o filho adotivo, Nereu Cecílio, que o auxiliava em tudo o que fazia.

Prestou inestimável construbuição à vida cultural do Arraial ensinando música e criando a primeira banda de música de Lagoa Santa - a Corporação Musical Santa Cecília.

Todos os seus bens, ele os distribuiu entre seu filho Nereu cecílio e entre algumas pessoas que o serviram, comprovando com isto, mais uma vez, seu caráter humanitário.

Ao pressentir a aproximaÇao de sua morte, ocorrida em 25 de maio de 1880, Lund determinou o lugar onde desejava ser sepultado - à sombra de um pequizeiro, num local aprazível onde costumava ir estudar. Lund era protestante e por isto seu desejo de ter um jazigo particular. No mesmo local foram sepultados seus colaboradores Bherens e Müller.

Em 1935 foi erquido, nesse local, um monumento a Eugene Warning e aLund por iniciativa da Academia Mineira de letras.

Há quase dois séculos atrás, Lund já se preocupava e alertava a todos sobre a importância da preservação do meio ambiente, especialmente das grutas e da vegetação que, àquele tempo, já eram destruídas e depredadas para exploração econômica. Em carta ao rei Cristiano da Dinamarca, ele externou seu desejo e preocupação, concluindo com muita sabedoria, que tudo seria muito diferente se a luz benéfica da ciência guiasse os trabalhos da indústria.


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