"To nem aí", esta musica da cantora Luka, mostra o desinteresse dos políticos das cidades próximas ao aeroporto de Confins, inaugurado em 1984, em lutar para devolver os vôos que  foram transferidos de Confins para a  Pampulha .
Porem o acadêmico Murilo Badaró reclama por nós,  mostra porque abandonar um aeroporto tão bem   equipado e projetado como o de Confins, para se fazer uma reforma no terminal da Pampulha onde vai gastar R$140 milhões. Recursos suficientes para as obras de término do metrô  e o aperfeiçoamento ao acesso para Confins.
Pouso forçado
 
Após a publicação em 21 de outubro do artigo "Pampulha e Confins"




 
Após a publicação em 21 de outubro do artigo "Pampulha e Confins", condenando a tentativa ensandecida de gastar R$ 140 milhões de dinheiro público para recuperação do irrecuperável Aeroporto da Pampulha, o ex-senador Carlos Wilson, presidente da Infraero, teve a delicadeza de telefonar-me para prestar alguns esclarecimentos. Indispensáveis, em sua opinião, para colocar a questão nos seus devidos termos.

Dizia-me o dirigente da estatal que a função de sua empresa é proporcionar segurança e conforto aos passageiros que embarcam nos terminais a seus cuidados. Lamentava, disse ele, não ter condições legais de aplicar recursos em rodovias, ruas ou avenidas de acesso ao aeródromo e nas estradas que vão ao terminal de Confins. Fugiria à competência da Infraero, mesmo admitindo ser o abandono de Confins péssima recomendação para os administradores brasileiros. Recuperar este era também sua meta. Estava, todavia, disposto ao mais amplo diálogo com a sociedade de Belo Horizonte e interessados no problema, a fim de encontrar solução para o agudo problema da utilização das atuais instalações de embarque e desembarque de passageiros.

 

O tema ganhou repercussão muito além dos objetivos do texto aqui publicado, encontrando apoio amplo entre usuários da aviação civil e empresários do setor


O tema ganhou repercussão muito além dos objetivos do texto aqui publicado, encontrando apoio amplo entre usuários da aviação civil e empresários do setor. Logo a seguir, o EM voltou a tratar da matéria, desta feita com a apresentação de provas irretorquíveis da insegurança com que operam os grandes aviões e da injustificada demora nas obras de recuperação da pista, reduzida em seu tamanho disponível e obrigando-os a verdadeiros pousos forçados.

Há no debate algumas conclusões concertadas: a de que os aviões acima de 50 passageiros devem ser deslocados para o Aeroporto Tancredo Neves. Outra é a de que a construção de edifício destinado a estacionamento de automóveis seria contra-senso em face da redução do tráfego e a terceira é a da ilegal usurpação da praça Bagatelle como estacionamento privativo da Infraero em detrimento da população. Nunca é demais lembrar Castro Alves: "A praça é do povo, assim como o céu é do condor".

Poesia à parte, o fundamental é resistir a essa monstruosidade desejada até por autoridades do município, mesmo sabendo que o abandono de Confins resultará em graves prejuízos para a economia mineira, projetando efeitos negativos sobre Belo Horizonte. Ao revés, incrementar o grande terminal a fim de que ele possa atingir as metas para as quais foi construído, é medida de interesse público que não pode ser contestada com argumentos privatistas.

Ponha-se a Infraero em acordo com o governo estadual e ajuste com ele a aplicação dos R$ 140 milhões em obras para facilitar o acesso ao aeródromo de Lagoa Santa. Os entendidos na questão têm soluções e alternativas de sobra para resolvê-lo. Basta ouvi-los.

Impossível é o governo federal, responsável pela empresa de administração aeroportuária, continuar na postura do “asno de Buridan”, perplexo e indeciso ante as fórmulas colocadas a seu exame. A única até agora desejada pelo órgão governamental está interditada pelo bom senso e sob suspeita de favonear empreiteiras e comerciantes em detrimento da população.

Creio que a circunstância de estarem à frente da Infraero dois políticos de bom talhe moral e de passado recomendável, Carlos Wilson e Leur Lomanto, vai favorecer a estatal a trilhar o bom caminho. Até porque sua história ficará maculada para sempre se lançar pela janela do desperdício tão grande volume de dinheiro numa cidade de tantas carências e problemas insolúveis. A Infraero está voando cego e em zona de turbulência. Acabará fazendo pouso forçado, com conseqüências danosas à sua imagem e reputação.

Murilo Badaró
Presidente da Academia Mineira de Letras

fonte: Jornal Estado de Minas - Opinião - 04/nov/2003