Pouso forçado
Após a
publicação em 21 de outubro do artigo "Pampulha e Confins"
Após a publicação em 21 de outubro do artigo "Pampulha
e Confins", condenando a tentativa ensandecida de gastar R$ 140
milhões de dinheiro público para recuperação do irrecuperável
Aeroporto da Pampulha, o ex-senador Carlos Wilson, presidente da
Infraero, teve a delicadeza de telefonar-me para prestar alguns
esclarecimentos. Indispensáveis, em sua opinião, para colocar a
questão nos seus devidos termos.
Dizia-me o dirigente da estatal que a função de sua empresa é
proporcionar segurança e conforto aos passageiros que embarcam nos
terminais a seus cuidados. Lamentava, disse ele, não ter condições
legais de aplicar recursos em rodovias, ruas ou avenidas de acesso
ao aeródromo e nas estradas que vão ao terminal de Confins. Fugiria
à competência da Infraero, mesmo admitindo ser o abandono de Confins
péssima recomendação para os administradores brasileiros. Recuperar
este era também sua meta. Estava, todavia, disposto ao mais amplo
diálogo com a sociedade de Belo Horizonte e interessados no
problema, a fim de encontrar solução para o agudo problema da
utilização das atuais instalações de embarque e desembarque de
passageiros.
O tema ganhou repercussão muito além dos objetivos do texto aqui
publicado, encontrando apoio amplo entre usuários da aviação civil e
empresários do setor
O tema ganhou repercussão muito além dos objetivos do texto aqui
publicado, encontrando apoio amplo entre usuários da aviação civil e
empresários do setor. Logo a seguir, o EM voltou a tratar da
matéria, desta feita com a apresentação de provas irretorquíveis da
insegurança com que operam os grandes aviões e da injustificada
demora nas obras de recuperação da pista, reduzida em seu tamanho
disponível e obrigando-os a verdadeiros pousos forçados.
Há no debate algumas conclusões concertadas: a de que os aviões
acima de 50 passageiros devem ser deslocados para o Aeroporto
Tancredo Neves. Outra é a de que a construção de edifício destinado
a estacionamento de automóveis seria contra-senso em face da redução
do tráfego e a terceira é a da ilegal usurpação da praça Bagatelle
como estacionamento privativo da Infraero em detrimento da
população. Nunca é demais lembrar Castro Alves: "A praça é do povo,
assim como o céu é do condor".
Poesia à parte, o fundamental é resistir a essa monstruosidade
desejada até por autoridades do município, mesmo sabendo que o
abandono de Confins resultará em graves prejuízos para a economia
mineira, projetando efeitos negativos sobre Belo Horizonte. Ao
revés, incrementar o grande terminal a fim de que ele possa atingir
as metas para as quais foi construído, é medida de interesse público
que não pode ser contestada com argumentos privatistas.
Ponha-se a Infraero em acordo com o governo estadual e ajuste com
ele a aplicação dos R$ 140 milhões em obras para facilitar o acesso
ao aeródromo de Lagoa Santa. Os entendidos na questão têm soluções e
alternativas de sobra para resolvê-lo. Basta ouvi-los.
Impossível é o governo federal, responsável pela empresa de
administração aeroportuária, continuar na postura do “asno de
Buridan”, perplexo e indeciso ante as fórmulas colocadas a seu
exame. A única até agora desejada pelo órgão governamental está
interditada pelo bom senso e sob suspeita de favonear empreiteiras e
comerciantes em detrimento da população.
Creio que a circunstância de estarem à frente da Infraero dois
políticos de bom talhe moral e de passado recomendável, Carlos
Wilson e Leur Lomanto, vai favorecer a estatal a trilhar o bom
caminho. Até porque sua história ficará maculada para sempre se
lançar pela janela do desperdício tão grande volume de dinheiro numa
cidade de tantas carências e problemas insolúveis. A Infraero está
voando cego e em zona de turbulência. Acabará fazendo pouso forçado,
com conseqüências danosas à sua imagem e reputação.
Murilo Badaró
Presidente da Academia Mineira de Letras
fonte: Jornal
Estado de Minas - Opinião - 04/nov/2003
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